O irmão Roger, de Taizé, era um teólogo de joelhos, que no silêncio escutava o que o espírito de Deus lhe queria dizer, um teólogo que vivia o que dizia. Por isso era um verdadeiro teólogo, ou seja, alguém que sabe falar de Deus.
A definição do cardeal Walter Kasper foi uma das caracterizações feitas no colóquio sobre o contributo do irmão Roger para o pensamento teológico. Realizado na primeira semana deste mês, em Taizé, o colóquio contou com a intervenção de teólogos e responsáveis católicos, ortodoxos, protestantes e anglicanos.
Um dos intervenientes foi Gottfried Hammann, professor de Teologia em Neuchatel (Suíça), e antigo membro do Grupo ecuménico de Dombes. Contestando a ideia de alguns colegas teólogos, de que o pensamento do irmão Roger constituía uma teologia, Hammann defendeu, perante os cerca de 300 participantes (na maioria, jovens teólogos ou teólogas oriundos dos cinco continentes) que o fundador de Taizé tinha um pensamento teológico que partia do coração, uma teologia da ágape.
Essa teologia do coração concretizava-se em gestos como o acolhimento de refugiados que marca Taizé desde o início, quando, em 1940, o então jovem pastor calvinista Roger Schutz foi para Taizé para acolher refugiados e judeus fugidos ao nazismo. Essa perspectiva continuou ao largo dos anos, com pessoas oriundas da Índia, do Ruanda, da Bósnia, Ucrânia, Iraque e outros países a serem acolhidas pela comunidade.
Outro exemplo deste mesmo factor é o da Operação Esperança, iniciada em 1963 na América Latina para apoiar populações desfavorecidas e que já apoiou situações em realidades tão diversas como a Coreia do Norte, Bangladesh, Cambodja, Jordânia, Sudão do Sul, Etiópia, Burkina-Faso, Bolívia ou Cuba onde, desde o último fim-de-semana, a comunidade iniciou a experiência de uma nova pequena fraternidade, com dois irmãos a viver em Matanças (centro da ilha).
A palavra esperança é inseparável do agir e de um agir que quer chegar ao que [Charles] Péguy chamou eixo da miséria do nosso mundo, disse Marguerite Léna, professora de Filosofia em Paris, que apontou ainda três pares de palavras que definem a experiência espiritual e teológica de Taizé: provisório/continuidade; urgência/paciência; possível/inesperado. T rata-se de uma teologia em acto, diziam vários intervenientes, ou ligada à vida, acrescentava Michel Stavrou, professor no Instituto de Teologia Ortodoxa de São Sérgio (Paris). Que também caracterizava o irmão Roger como alguém apaixonado da bondade divina, que tinha uma linguagem política contemplativa e autenticamente teológica.
Na apresentação do colóquio, o irmão Richard, de Taizé, dizia que o fundador da comunidade entendia que é possível conhecer Deus através do rosto radioso de Jesus. Para o irmão Roger, esse rosto revela-se nos rostos e nas vidas de quem mais sofre.
Texto: António Marujo (jornalista do religionline.blogspot.pt)
Imagem: Wiesa Klemens
Nota: autor escreve segundo a anterior nota ortográfica