Com que idade deve uma criança começar a ir à Missa?
Provavelmente, esta pergunta já terá bailado entre dúvidas e pensamentos de mães e pais, em conversas ou discussões familiares. A pergunta revela um bom desejo: levar a sério o compromisso assumido no batismo de educar a criança na fé e de a ir iniciando através do exemplo. A pergunta revela uma preocupação sensata: faz sentido levar uma criança à Igreja quando sabemos que vai incomodar a assembleia? No entanto, antes de saber quando deve uma criança começar a ir à Missa, há um como a que talvez seja bom não fugir.
Como preparar a criança para que ela possa, sem deixar de ter a idade que tem, estar bem na Missa?
Um bom ponto de partida será explicar o sentido de nos reunirmos em comunidade, recordando a alegria que existe nos encontros familiares: haverá alguma família que não goste de se reunir para matar saudades e viver bons momentos de partilha e alegria? Estes encontros da família são parecidos com aqueles que vivemos em comunidade, ao fim de semana, à volta do altar na casa de Deus, respondendo ao convite que Jesus fez aos seus amigos mais próximos durante a última ceia.
Mas não basta ir compreendendo o que é a Missa e cada um dos seus momentos. É também importante que ela vá aprendendo a estar na Missa. Isso começa antes de atravessar o umbral da igreja. Não é de um dia para o outro que as crianças pequenas conseguem assistir à Missa serenas e em silêncio.
Naturalmente, ser mais ou menos irrequieto depende de vários fatores, entre os quais o temperamento de cada criança. Mas é bom saber, desde cedo, que rezamos com o corpo e que é preciso ir aprendendo o seu ritmo, ir aprendendo a serená-lo, a dominar a brusquidão e o impulso. É bom ir sabendo que gestos podem ser expressão da nossa oração.
Ajuda muito ir ensinando a criança a compreender que não estamos do mesmo modo no parque, em que saltamos, corremos e brincamos, ou no quarto do avô que está doente e não pode ouvir barulho.
Educa-se a criança a saber «mandar no seu corpo» através de exercícios de domínio corporal que estão na base da educação do silêncio, tão importante para a relação com Deus. Esta educação começa no dia em que a criança nasce e é um desafio enorme para os pais.
Se os pais, habitualmente, falam baixo, andam com cuidado (para não incomodar os vizinhos), fecham as portas sem as bater, arrastam cadeiras sem barulho, as crianças vão aprendendo o silêncio por imitação. Aprender boas maneiras e as regras do civismo é uma ótima forma de se fazer a iniciação à fé.
Ainda que tudo isto resulte e a criança vá serenamente à Missa, não deixará a sua curiosidade à porta… Ao responder às suas perguntas, não devemos é querer explicar tudo de tal maneira, tintim por tintim, que acabemos por querer esgotar aquilo que nem nós conseguimos compreender totalmente. Se uma criança pergunta como é que Jesus cabe na hóstia, seguramente não vamos ser capazes de lhe explicar o que significa a transubstanciação (a transformação do pão e vinho no corpo e sangue de Jesus). Aliás, talvez seja possível prevenir a pergunta se, quando a criança pergunta Porque é que os pais podem comer uma bolacha e eu não?, em vez de responder «as crianças só podem receber Jesus quando fizerem a Primeira Comunhão», se disser «o que as pessoas comem não são bolachinhas, mas um pedaço de pão, parecido com o que Jesus deu a comer, num jantar importante, aos seus amigos. Quando cresceres mais um bocadinho também vais poder comer». Antes dos seis anos, fugir de respostas concretas pode ser um desadequado convite ao pensamento mágico.
Naturalmente, ajuda ir a uma Eucaristia que seja pensada especialmente para crianças ou em que haja uma catequese própria para elas durante a liturgia da palavra, como acontece em algumas comunidades cristãs. Pode também conversar-se em família sobre o Evangelho de Domingo (a Palavra de Deus), para que, ao chegar à Missa, ele não soe tão estranho à criança.
Isto nem sempre é possível e por isso é tão importante que as crianças vão aprendendo pouco a pouco o sentido da Missa e vão sabendo estar numa igreja, sem que a tenham que transformar numa sala de jogos improvisada, em que carrinhos, bonecas, lápis e livros de colorir ocupam um espaço que não é o seu.
Talvez mais importante do que decidir quando é que uma criança deve começar a ir à Missa, seja pensar um pouco como é que queremos que ela aprenda a ir à Missa.
Dicas para o Silêncio
Há exercícios corporais que se podem fazer com criatividade, que ajudarão a criança de 3-6 anos a educar os seus gestos, a serenar o corpo, libertando-se da agitação. Ela pode aprender a andar sem correr, nem fazer barulho; a falar baixo; a pegar em coisas sem fazer ruído. Exemplos:
– «Hoje, vamos para o banho em pezinhos de lã para que ninguém nos oiça!».
– «Hoje, ao jantar, as nossas cadeiras são de borracha, por isso não se ouvem».
– «Hoje, vão levar a toalha de banho, dobrada em três, em cima da cabeça e em equilíbrio total».
– «Vou precisar de ajuda para pôr a mesa. Vão levar, no meio de um tabuleiro grande, três pratos, sem saírem do sítio».
O jogo pode ser o mesmo até que a criança aprenda ou se mantenha interessada. Os jogos devem ser variados e apelativos, com dificuldade acrescida e exigindo concentração.
Este tipo de exercícios levam a criança a ser capaz de «mandar no seu corpo», na sua voz, na sua vontade de rir, enfim, a educar a expressão, a ser bem-educada
Já agora, uma dica extra: Não saia apressadamente para a Missa ou no meio de grande agitação. Procure sair com tempo para que ninguém tenha que vestir casacos a correr, acabar o copo de leite no meio de gritarias e engasgos ou entrar no carro aos tropeços e ao som de exaltados bateres de porta.
Texto: Domingas Brito e José Maria Brito, sj