Para progredir no discernimento, a Igreja do nosso tempo tem o dever de escutar, em espírito de conversão, todos, a começar pelos mais pobres e aqueles que foram vítimas de abusos cometidos por membros do corpo eclesial. Esta foi uma das principais conclusões vertida na Carta ao Povo de Deus, divulgada no final dos trabalhos da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos sobre a Sinodalidade.
O documento refere que “escutar todos” exige da Igreja “um caminho de conversão, que é também um caminho de louvor” e que implica escutar também “aqueles que não têm direito à palavra na sociedade ou que se sentem excluídos, mesmo da Igreja”.
Quanto às vítimas de abusos por parte de membros do clero, a Carta menciona que não só devem ser ouvidas como também tem de haver um empenho “concreto e estrutural” para que isso não volte a acontecer.
O documento sustenta ainda que a Igreja tem de “escutar as pessoas que são vítimas do racismo em todas as suas formas, especialmente, nalgumas regiões, os povos indígenas cujas culturas foram desprezadas”, bem como os leigos, mulheres e homens, todos chamados à santidade em virtude da sua vocação batismal.
No elenco de orientações emanadas na Carta, consta a “escuta das famílias, as suas preocupações educativas, o testemunho cristão que oferecem no mundo de hoje” e a importância de a Igreja “acolher as vozes daqueles que desejam se envolver em ministérios leigos ou em órgãos participativos de discernimento e de tomada de decisões”.
O documento indica que “a Igreja tem particular necessidade de recolher ainda mais a palavra e a experiência dos ministros ordenados: os sacerdotes, primeiros colaboradores dos bispos, cujo ministério sacramental é indispensável à vida de todo o corpo; os diáconos, que com o seu ministério significam a solicitude de toda a Igreja ao serviço dos mais vulneráveis”.
A Carta ao Povo de Deus sustenta que a Igreja deve também “deixar-se interpelar pela voz profética da vida consagrada, sentinela vigilante dos apelos do Espírito” e que “precisa ainda de estar atenta a todos aqueles que não partilham a sua fé, mas que procuram a verdade”.
Ponto de situação
A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’, começou a 4 de outubro e decorre até 29 de outubro. Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.
A assembleia sinodal, presidida pelo Papa, tem 365 votantes, entre eles 54 mulheres, a quem se somam, sem direito a voto, 12 representantes de outras Igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), oito convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo.
A Conferência Episcopal Portuguesa está representada pelo seu presidente e vice-presidente, respetivamente D. José Ornelas e D. Virgílio Antunes.
Foto: @Ricardo Perna