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Guardanapos amarrotados

É sábado. São 4h30 da madrugada. Um jovem de aproximadamente 20 anos carrega aos ombros uma jovem, mais ou menos da mesma idade, praticamente inanimada. Bebeu demasiado. Já não consegue andar sozinha. Praticamente não reage. É atirada (literalmente) para cima de um sofá, qual “guardanapo amarrotado”, que é depositado no caixote do lixo. Aos poucos, há de regressar à realidade.

Rapazes e raparigas, uns ainda em plena fase de adolescência e outros já com mais alguns anos (e experiências de consumos desenfreados acumuladas), passam ao lado desta “cena”, como o sacerdote e o levita passaram ao lado do samaritano caído na berma da estrada (cf. Lucas 10, 29-37). Provavelmente, reveem-se nesta situação e lembram-se de quando, também eles, foram tratados como “guardanapos amarrotados”.

Uns quilómetros adiante, um grupo de amigos troca gargalhadas e comentários levianos, intercalados por mais uns goles de bebida. Com a sensação de missão (diversão) cumprida, decidem depois regressar a casa. Entram no carro e seguem estrada fora, nalguns casos sem grande atenção ao caminho. E sobretudo sem pensar nas possíveis consequências, para eles e para as outras pessoas que circulam na estrada, da condução sob efeito do álcool. Tão simplesmente sem pensar no valor da vida (da sua e da dos outros).

Estes não são casos únicos, nem tão pouco raros. Não ocorrem só numa localidade de grandes dimensões. São cada vez mais comuns e passam-se inclusive numa pequena vila de aproximadamente três mil habitantes.

Chamadas a acalmar os ânimos de alguns desacatos, as forças de segurança presenciam os acontecimentos. Esta situação, e outras semelhantes, já fazem parte das suas rotinas profissionais, mas nem por isso os agentes, que também são pessoas, deixam de se interrogar, muitas vezes pensando nos próprios filhos, sobre o rumo que a juventude de hoje opta por seguir.

E nós, como nos sentimos perante este cenário, que não é de filme, mas do dia a dia? Ficamos indiferentes? Procuramos ajudar? Se presenciássemos a cena e víssemos que esse “guardanapo amarrotado” era alguém nosso conhecido, a dor seria maior e a nossa reação seria diferente…

Este breve relato da realidade é uma chamada de atenção para a sociedade que está a ser construída, muitas vezes com a nossa ajuda. Aparentemente, podemos pensar que nada temos a ver com o assunto. Mas não teremos a nossa quota parte de responsabilidade quando, enquanto cidadãos, vamos tolerando, consecutivamente, comportamentos aparentemente inofensivos mas que, qual efeito “bola de neve”, vão assumindo dimensões que depois já não conseguirmos controlar? Não teremos a nossa quota parte de responsabilidade quando, enquanto pais, vamos cedendo a pequenos caprichos dos nossos filhos, e em pouco tempo nos vemos confrontados com pedidos, atitudes e comportamentos que já não conseguimos controlar?

Um “não” dito na hora certa… uma repreensão no momento oportuno… uma chamada de atenção perante comportamentos que consideramos inadequados são atitudes que, enquanto pais, familiares, professores, amigos… ou simplesmente enquanto cidadãos, podem fazer toda a diferença. São atitudes através das quais podemos ajudar a pintar a noite com cores diferentes. São atitudes que certamente ajudarão a que as pessoas não continuem a ser tratadas como “guardanapos amarrotados”.

 

Cláudia Pereira

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