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Glória a Deus e paz na terra

“Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados” (Lc 2, 14). Foram estas as palavras que ecoaram no céu, vindas de um coro de anjos, na noite do nascimento de Jesus, tal como nos é contado no Evangelho segundo S. Lucas. Os pastores, homens simples, marginalizados do seu tempo, são envolvidos por uma luz resplandecente e ouvem em primeira mão a notícia de que a promessa de Deus, feita desde sempre à humanidade, se tinha acabado de cumprir.

Se já causa estranheza o facto de os insignificantes pastores serem os destinatários desta notícia, pois haveria outros com muito mais interesse em o saber, a começar por Herodes até aos sacerdotes do templo, mais ainda é surpreendente o seu conteúdo: o sinal de que a profecia foi realizada é um menino recém-nascido, reclinado numa manjedoura, envolto em panos, num estábulo de animais.

O cântico, para quem assiste de fora à descrição desta cena, parece fora de lugar. Glória a Deus e paz na terra. Se, na verdade, sentimos estranheza nisto, é porque ainda não fomos capazes de perceber verdadeiramente o que é a glória e a paz, na lógica de Deus.

Vejamos: usamos o termo glória para o sucesso, as conquistas, o ponto alto de alguma realização; e a paz associamos com naturalidade a um estado em que todos têm aquilo de que necessitam, são acolhidos e respeitados, no qual ninguém é posto de fora de uma harmonia comum. Mas aqui estamos a assistir a uma imagem de glória e a um estado de paz que tem pouco a ver com os nossos preconceitos.

Poderá ser a glória de Deus a humilhação de nascer num lugar indigno? Poderá a paz acontecer num momento em que há pessoas postas fora dos lugares onde se deveriam hospedar?

Na lógica de Deus, contemplando esta cena do Evangelho, vemos que glória é despojamento e paz é pobreza. Aliás, palavras que remetem uma para a outra. O convite do Natal é exigente, pois implica deixar uma lógica de grandeza e de segurança e entrar num dinamismo de proximidade e acolhimento, fazendo-se pequeno para ir ao encontro do mais pequeno.

O Anúncio do Evangelho, a Boa Notícia de que Deus habita entre nós, continua a ecoar na noite escura das falsas grandezas e das injustiças gritantes. É preciso ter o coração dos simples pastores para ter a alegria de ser surpreendido com o cântico do Natal. É um canto glorioso, sem dúvida, mas é para ser ouvido em silêncio e com um coração pequeno. Nesta pequenez cabe Deus.

Que o Senhor Jesus nos ajude a todos a viver profundamente a simplicidade e pobreza do seu nascimento. São os votos de Boas Festas da Equipa do Secretariado Nacional do Apostolado da Oração.

Um Santo Natal e um novo ano cheio das maiores bênçãos!

 

P. António Valério, sj

 

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