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Fundamentalismo “Charlie”

Assinalando um ano sobre o massacre levado a cabo por fundamentalistas islâmicos na sua sede, em Paris, o jornal Charlie Hebdo publica, na primeira página, uma suposta caricatura de Deus (um velho barbudo, de olhar alucinado, com dentes podres, uma túnica ensanguentada e uma metralhadora à cintura) acompanhada do título 1 an après – L’assassin court toujours (Um ano depois – o assassino continua à solta). O assassino, como se depreende, é Deus.

Não vou discutir a estupidez da caricatura. Afinal, o Charlie Hebdo não é conhecido pela inteligência das suas críticas aos crentes religiosos, antes pelo fundamentalismo fanático das mesmas. Digo «crentes religiosos» propositadamente. Na verdade, a «religião organizada» que o editorialista do Charlie Hebdo diz ser o alvo do jornal é uma abstração – e a religião «não organizada» que, pelos vistos, já não lhe merece crítica é uma abstração ainda maior. A «religião» não existe. Existem homens e mulheres crentes que vivem a sua fé de um modo determinado. São estes homens e mulheres que o Charlie Hebdo agride ou pretende agredir.

Olhando para a caricatura do Charlie Hebdo é fácil ver que o fundamentalismo não é característica apenas de alguns crentes religiosos, mas faz parte do quotidiano de crentes de outro tipo. E não vale a pena dizer que há fundamentalismos bons e fundamentalismos maus. Vale, sim, a pena perguntar se o fundamentalismo antirreligioso, dados os meios e a oportunidade, não levaria alguém a fazer o mesmo que fizeram os extremistas islâmicos na sede do Charlie Hebdo, há um ano… Para se ter uma resposta, basta recordar a brutal história do século XX e dos seus totalitarismos ateus.

 

Elias Couto

Atualidade

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