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Festejado ou sem-abrigo?

Convidados para a celebração de um aniversário, faziam festa numa sala profusamente enfeitada. Não faltava um grande bolo, com uma cereja no topo, apetitosos comestíveis e espumante de marca. Um coro, formado pelos convivas mais afinados, cantava parabéns em polifonia, alto e bom som. Mas, coisa tão bizarra e estranha, não se via em nenhum lado o festejado. A festa era para quem? Um pequeno grupo interrogava-se sobre tão radical contradição. Timidamente espreitaram por uma janela e viram que o festejado estava na rua, aguardando que lhe abrissem a porta. O festejado estava reduzido a um sem-abrigo.

Não terá isto a ver como o modo como o Natal hoje é celebrado por tanta gente? Um festivo aniversário natalício em que se esquece o festejado. Uma celebração sem celebrado. O aniversário de um desconhecido. Ou então, a festa a um conhecido que é ignorado. Como nota S. João Evangelista: Jesus «veio para o que era seu e os seus não O receberam» (1, 11). Jesus teve de ficar fora da porta, na rua, reduzido ao estatuto de um sem-abrigo.

Na sua última audiência geral deste ano, o Papa Francisco insistiu para que o nosso Natal regresse à sua fonte original, à gruta de Belém: «Nos nossos tempos, especialmente na Europa, assistimos a uma espécie de desvirtuamento do Natal: em nome de um falso respeito por quem não é cristão, que muitas vezes esconde a vontade de marginalizar a fé, elimina-se desta festa qualquer referência ao nascimento de Jesus. Mas na realidade este acontecimento é o único verdadeiro Natal. Sem Jesus não há Natal. É outra festa, mas não o Natal. Quando o centro é Ele, então as luzes, as músicas, as várias tradições locais, incluindo os pratos típicos, tudo concorre para criar a atmosfera da festa, mas com Jesus no centro. Se O tiramos, então a luz se apaga e tudo se torna fingido, uma aparência de Natal» (2017.12.27).

Passou a ser comum afirmar: Natal é todos os dias! Natal é quando alguém quiser que seja Natal! Para além de frases feitas, que poderão ser mais sonho que realidade, é essencial pôr o Natal em pratos limpos, ou seja, importa concretizar o espírito de Natal. Ser coerente com o que se celebra é fundamental.

E passo a outra história simbólica. Um grupo de amigos fez uma bela festa a um familiar. Correu tudo muito bem. Cantou-se e brindou-se com entusiasmo jubiloso. Ofereceram presentes ao festejado e até foram generosos em discursos elogiosos. Festa melhor era difícil de imaginar e realizar… No dia seguinte, as mesmas pessoas se cruzaram na rua com o festejado, mas nem bom dia lhe dirigiram. A sua festa e respetivas demonstrações de amizade já estavam fora do prazo de validade.

Que bom seria que esta história fosse mera ficção, sem algum contacto com a realidade, por vezes tão dura e crua.

O espírito de Natal não tem prazo de validade. É sempre atual. Nenhum dia pode deixar de ser Natal. Para a concretização do espírito de Natal, de amor e serviço, proponho que nossas vidas tenham sempre mais o estilo emanuelino de oferta, de presente a quem precisa de nós. Assim nos exorta aquele que tem uma particular responsabilidade de representar o Jesus do presépio, o Papa Francisco: «No Natal, trocamos presentes. Mas, para nós, o verdadeiro presente é Jesus e, como Ele, queremos ser presente para os outros. Assim Jesus não cessará jamais de nascer na vida de cada um de nós e, por nosso intermédio, continuará a ser dom de salvação para os humildes e marginalizados da terra».

Concretizando, em simples gestos do quotidiano, o espírito do Natal, o mundo será melhor. Tal como no presépio de Belém, a melhor prenda somos nós.

 

Manuel Morujão, sj

 

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