As férias são um direito de cada pessoa. Direito a ser gozado para descansar, encontrar paz e sossego, passear, ter mais tempo para leitura, para oração, para desfrutar da natureza, de um passeio, das belezas que Deus nos dá e que durante o ano não temos tempo para olhar para elas e elevar-se ao Criador de todas as coisas. Férias merecidas depois de um ano de estudo, de trabalho, de stress, de azáfama, de preocupações, de cansaço, de labuta da vida. Férias que muitos não podem ter por diversas razões: falta de dinheiro, doentes em casa, ocupações que preenchem a vida.
Mas precisamos todos desses dias maravilhosos para nos encontrarmos, para ter tempo para o diálogo, a partilha, a visita a amigos e a familiares, para respirar o ar puro das florestas, ouvir com atenção o cantar dos pássaros, observar com amor os dons de Deus, quer no mar imenso e na beleza das ondas, quer nas caminhadas a pé pelo verde das florestas, quer na visita a algum monumento ou cidade que desconhecemos, quer numa ida ao cinema ou ao teatro, quer num passeio de barco. Descansar, relaxar, retemperar forças e ânimo, encher o coração de alegria e de paz.
As férias deviam ter sempre uma componente mais orante. Dar mais lugar a Deus. Ele não precisa de ter férias. Estas serão bem disfrutadas com Ele, com mais oração, para estar diante de um sacrário, para visitar uma igreja ou santuário e rezar, dialogar com o Senhor, já que, no dia a dia, com tanta azáfama, rezamos pouco e mal. Saibamos aproveitar as férias para retemperar forças espirituais, para nos enriquecermos com a leitura da palavra de Deus, para ler um livro espiritual ou de boa cultura humana.
Rezar também descansa. Rezar faz-nos entrar em comunhão com o Deus da paz e da consolação. Rezar ajuda-nos a mergulhar no silêncio, no oceano infinito do amor e da graça. Rezar retempera as energias humanas e espirituais, pois só Deus é amor, é fortaleza, é paz infinita.
Durante o ano, tanta gente sente o desejo de ter tempo para ir mais vezes à Eucaristia, para rezar o terço cada dia, para fazer um pouco de Adoração a Jesus Eucaristia, para fazer uma visita a um doente. Mas queixamo-nos que não temos tempo.
Aproveitemos os dias de férias para fazer essas coisas maravilhosas de que sentimos fome e sede, desejo de estar com Deus e nos enchermos do seu amor. A quantas pessoas ouço, ao longo do ano, dizer: bem gostava de ler este livro, mas à noite, depois do trabalho e muito cansado, já não dá. Aproveitemos as férias para crescer nalgum aspeto de conhecimento, de leitura, de formação, de distração.
O stress contínuo, a azáfama contínua desgasta nervos, cabeça, neurónios, de um modo que pode ser, depois, cruel para a estabilidade da família, para o equilíbrio humano, sobretudo nervoso.
As férias, com merecido e longo descanso, porventura mais horas de sono, de repouso, de relaxamento físico e psicológico, são um dom precioso para nós e para os outros, sobretudo a família.
Teremos mais paz para ouvir, para dialogar, para serenar, para partilhar vida, amor, alegrias, para nos aproximarmos de quem precisa mais da nossa presença. As férias até nos darão tempo para fazer algum telefonema a quem precisa de nos ouvir e de desabafar. Parece que o sossego e a serenidade retomam lugar no nosso interior e nos fazem ser mais nós mesmos.
É bom pensar que Deus também descansou ao sétimo dia da criação e que Jesus, alguma vez, convidou os seus apóstolos para se retirarem das labutas e das multidões e descansarem um pouco.
Jesus, nosso modelo, também precisou de tempos de descanso para estar com os seus amigos e para rezar ao Pai. Saibamos imitá-Lo. Férias com Jesus e como Jesus. Férias com tempos de pausa, de música, de oração. Férias para mergulhar no silêncio maravilhoso de Deus, como quem mergulha no oceano e saboreia o mergulho na água e o embate das ondas.
Dário Pedroso, sj