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Exortação Apostólica “Alegrai-vos e Exultai”: todos somos chamados a ser santos

O conjunto de reflexões da terceira Exortação Apostólica do Papa Francisco exprime a intenção de promover o desejo de santidade, propõe Jesus como caminho e apela ao discernimento espiritual.

Através da vivência das Bem-aventuranças, tornamo-nos santos. Este é o caminho apontado pelo Papa Francisco na Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate divulgada a 9 de abril. O “caminho contracorrente” é, de facto, um “chamamento universal” que atinge cada ser humano.

A vida de santidade está diretamente ligada à vida de misericórdia, “a chave para o céu”, pois santo é aquele que se comove e que age em prol dos mais desfavorecidos.

O convite feito na Exortação Apostólica, ‘Alegrai-vos e Exultai’, vai beber das palavras que Jesus dirige à multidão e aos discípulos “que são perseguidos e humilhados por causa dele” (ver Mateus 5,12 e Lucas 6, 23).

Divida em cinco capítulos, os 177 parágrafos da exortação não constituem “um tratado sobre a santidade, com muitas definições e distinções”, mas uma nova maneira de “fazer ressoar mais uma vez o chamamento à santidade”, analisando “os seus riscos, desafios e oportunidades”.

No primeiro capítulo, todos somos chamados a ser santos. Cada um tem um caminho de perfeição a percorrer e não nos devemos deixar desencorajar achando que os modelos de santidade “são intangíveis” ou “imitar algo que não foi pensado para ele”. “Os santos já chegaram à presença de Deus”, “protegem, amparam e acompanham” os crentes. Devemos estar atentos ao chamamento que Deus faz através de “pequenos gestos” do dia-a-dia, testemunhados por “aqueles que vivem próximos de nós”.

No segundo capítulo, Francisco identifica “dois inimigos subtis da santidade”, já por si referidos nas Eucaristias de Santa Marta, na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho) e no documento da Doutrina da Fé Placuit Deo (Aprouve a Deus). São eles o gnosticismo e o pelagianismo, duas heresias com origem nos primeiros séculos do Cristianismo, mas que continuam atuais.

O gnosticismo, autocelebração de “uma mente sem encarnação, incapaz de tocar a carne sofredora de Cristo nos outros, engessada numa enciclopédia de abstrações”, é, para o Santo Padre, uma “vaidosa superficialidade” que procura “reduzir o ensinamento de Jesus a uma lógica fria e dura que procura dominar tudo”. Dão preferência a “um Deus sem Cristo, um Cristo sem Igreja, uma Igreja sem povo”.

O pelagianismo é, para Francisco, outro erro gerado pelo gnosticismo. O “esforço pessoal” passar a ser o objeto de adoração, em vez da mente humana. Sem humildade, o cristão”sente-se superior aos outros por cumprir determinadas normas” ou por seguir “um certo estilo católico” que se caracteriza pela “obsessão pela lei”, o “fascínio em exibir conquistas sociais e políticas”, ou “a ostentação no cuidado da liturgia, da doutrina e do prestígio da Igreja”. Segundo o Papa, estes cristãos “não se deixam guiar pelo Espírito no caminho do amor”, complicam o Evangelho e tornam-se “escravos de um esquema”.

As Bem-aventuranças são o tema central do terceiro capítulo, pois, ao identificá-las, Jesus “explicou, com toda a simplicidade, o que é ser santo”. O Santo Padre passa em revista cada Bem-aventurança, apelando à “pobreza de coração”, que se traduz numa vida austera, à “humilde mansidão” perante um mundo que pede luta em todas as frentes, à sede de justiça e à “coragem” de se deixar “trespassar” pela dor dos outros e sentir “compaixão” enquanto “o mundano ignora, olha para o lado”. Os cristãos devem “semear a paz” e a “amizade social” com “serenidade, criatividade, sensibilidade e destreza”, combatendo a corrupção, que transforma tudo em negócio. Este é um processo difícil, mas “não se pode esperar, para viver o Evangelho, que tudo à nossa volta seja favorável”, alerta o Papa.

O comportamento dos crentes deve seguir a “grande regra” descrita no final do Evangelho de S. Mateus: ser misericordiosos. Para se ser santo, deve-se viver Deus através do amor aos outros. Os cristãos que não se relacionam com Deus, aqueles que “suspeitam do compromisso social dos outros”, ou os que “relativizam” a fé seguem ideologias “que mutilam o Evangelho”. Francisco dá como exemplo o acolhimento de migrantes, desvalorizado por alguns crentes em detrimento de outras questões sociais, esquecendo que “é um dever de todo cristão” acolher, “porque em todo o estrangeiro existe Cristo”.

Francisco aponta o dedo à sociedade de “consumo hedonista”, que nos convida a “gozar a vida”, uma visão que vai contra a doutrina de glorificação de Deus, que, por seu lado, nos pede para nos “gastarmos” nas obras de misericórdia.

No quatro capítulo, o Santo Padre reflete sobre as características “indispensáveis” para entender o estilo de vida da santidade, salientando a “perseverança, paciência e mansidão”, a “alegria e senso de humor” e, ainda, a “audácia e fervor”. O caminho que se percorre até à santidade deve ser vivido “em comunidade”, “em constante oração” e em “contemplação”, porque a vida cristã é marcada por um combate “constante” contra a “mentalidade mundana” que “nos engana, atordoa e torna medíocres”.

No final do quinto capítulo, o Papa convida os crescente a combater o “Maligno que não é um mito”, mas “um ser pessoal que nos atormenta”. Pede “vigilância” e a prática “da oração, da caridade, da adoração eucarística e dos Sacramentos”. Para Francisco, é, também, importante o discernimento, em especial numa altura “que oferece enormes possibilidades de ação e distração”, que “não deixam espaços vazios onde ressoa a voz de Deus”. Neste âmbito, os jovens devem ser alvo de cuidados especiais, pois encontram-se muitas vezes “expostos a um constante ‘zapping’, em mundos virtuais distantes da realidade”. O discernimento deve servir para “reconhecer como podemos cumprir melhor a missão que nos foi confiada no Batismo”.

‘Alegrai-vos e Exultai’ é concluída com uma referência à Virgem Maria: “Conversar com Ela consola-nos, liberta-nos, santifica-nos. A Mãe não necessita de muitas palavras, não precisa que nos esforcemos demasiado para Lhe explicar o que se passa connosco”.

A Exortação Apostólica ‘Alegrai-vos e Exultai’ encontra-se disponível para encomenda no site da livraria do Apostolado da Oração, sendo expedida a partir de 16 de abril.

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