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Eu sou eles

As notícias têm asas. Voam velozes e tudo se sabe neste mundo globalizado, quase instantaneamente. Gostaríamos de só ter boas notícias ou que, pelo menos, estas fossem destacadas no quadro de honra da comunicação. Mas as más notícias têm mais peso mediático, causam mais estrondo e costumam ganhar lugar no pódio das manchetes dos jornais e dos prime time televisivos.

Todas as notícias, agradáveis ou dolorosas, nos fazem sentir que os outros são parte de nós mesmos e que sem eles não somos nós. «Eu sou eles».

Os últimos tempos têm-nos trazido notícias que escorrem sangue e lágrimas. Cristãos e muitos outros que são perseguidos pela simples razão da sua fé em Deus, por pessoas que se dedicam a ser autores de assassinatos bárbaros, em nome de fundamentalismos que nunca podem ser religiosos nem inspirados por Deus, que é amor e paz. O Mediterrâneo, «mare nostrum», tem sido o cemitério volante de milhares de vítimas, nossos irmãos e irmãs que tentam fugir dos horrores da guerra e da fome, arriscando tudo, explorados por usurpadores sem consciência. O terramoto no Nepal, que ceifou perto de uma dezena de milhar de vidas e deixou incontáveis feridos e desalojados…

Em todas estas situações, importa repetir «Eu sou eles», até porque bem poderíamos estar no seu lugar. Entre as personalidades que convocam à solidariedade, tem sobressaído o Papa Francisco, não tivesse ele de representar a Cristo, como sucessor do apóstolo Pedro. Na sua mensagem quaresmal, assim nos exorta: «Amados irmãos e irmãs, como desejo que os lugares onde a Igreja se manifesta, particularmente as nossas paróquias e as nossas comunidades, se tornem ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença!» É porque a tentação da indiferença é forte, mesmo para nós seguidores do Cristo do lava-pés: «Também como indivíduos temos a tentação da indiferença. Estamos saturados de notícias e imagens impressionantes que nos relatam o sofrimento humano, sentindo ao mesmo tempo toda a nossa incapacidade de intervir. Que fazer para não nos deixarmos absorver por esta espiral de terror e impotência»?

A resposta a esta pergunta, para que eu seja eles, vai em três direcções:

– Rezar em comunhão com toda a Igreja, que está na terra e no Céu. Não devemos subestimar o poder da oração que Santo Agostinho qualifica como «a força do homem e a fraqueza de Deus». Recordemos que o Papa Francisco frequentemente pede às pessoas para rezarem por ele, pois acredita no poder da oração. Rezar assim é um forte exercício de ajuda solidária.

– A nossa ajuda, que se pode traduzir em múltiplos gestos de caridade, tanto em relação a quem vive perto de nós, como a quem se situa a milhares de quilómetros de distância. Tal é possível graças aos múltiplos organismos caritativos da Igreja e da sociedade civil.

– O sofrimento dos que vivem perto ou longe de nós é um desafio à nossa conversão, recordando-nos a fragilidade das nossas vidas e a dependência de Deus e dos outros, de quem temos sempre necessidade.

Como ninguém, Deus cumpre o lema: «Eu sou eles», vivendo sempre ao nosso serviço, empenhando-Se maximamente pelo nosso bem e salvação. Santo Agostinho afirma: «Eu sou eu, mas não sou meu». Somos de todos os que precisam de nós. «Eu sou eles».

 

Manuel Morujão, sj 

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