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Costuma olhar para as etiquetas dos produtos que compra?

No passado mês de novembro, a China Labor Watch – uma organização não-governamental chinesa dedicada à defesa e promoção das condições de trabalho naquele país – divulgou um relatório acerca das condições de trabalho nas cinco principais fábricas chinesas de brinquedos, referindo turnos de 11 horas diárias, seis dias por semana, ritmos de quatro horas seguidas de trabalho sem autorização para intervalo, despedimento de trabalhadores em idade próxima da reforma (para minimizar o pagamento de pensões), condições desumanas de habitação e de saúde dos trabalhadores, entre outras. A crise económica global levou ao encerramento de algumas das maiores fábricas, sem que os trabalhadores recebessem as devidas indemnizações – e os protestos realizados foram embargados pelas forças policiais chinesas. Aquando do encerramento de uma das fábricas fornecedoras da Disney, em setembro, os trabalhadores dirigiram-se a Hong Kong para uma ação de protesto junto da sede da multinacional naquela cidade (1).

De acordo com o governo chinês, em 2015 cerca de 75% dos brinquedos comercializados em todo o mundo foram produzidos na China, ao serviço de empresas internacionais conhecidas entre nós: Mattel, Disney, etc. O governo chinês tem sucessivamente aprovado legislação no sentido de proteger os direitos dos trabalhadores e as condições de trabalho – mas a política de partido único e a ausência de condições democráticas de fiscalização e transparência impedem que tais medidas sejam aplicadas. As empresas multinacionais publicam códigos de conduta laborais, que em alguns casos se alargam às empresas fornecedoras; mas a ausência de fiscalização e as “necessidades” de lucro e competitividade levam a que tais códigos sejam frequentemente violados. Uma reportagem da BBC publicada em dezembro de 2014 revela as condições desumanas de trabalho em fábricas fornecedoras da Apple em Xangai, onde se produzem os tablets e smartphones que os nossos adolescentes tanto gostam (2). Algumas empresas, por motivos de marketing, já só colocam nas etiquetas a expressão «made in R.P.C.», as iniciais de República Popular da China.

Finalmente, todos guardamos na memória o incêndio que em abril de 2013 deflagrou num conjunto fabril no Bangladesh, provocando cerca de 1020 mortos e 2430 feridos. Tais instalações fabricavam – sem o mínimo de condições de segurança – para grandes cadeias internacionais de moda, como a Primark (3).

Olhar para as etiquetas, sempre que fazemos uma compra, é algo difícil e aborrecido. É verdade que estas realidades são por todos nós conhecidas; mas, de imediato, a nossa consciência apresenta-nos as suas razões: o preço mais reduzido (embora, em termos de vestuário ou de decoração, por exemplo, já seja possível encontrar preços acessíveis em produtos fabricados na Europa); a ausência de alternativas (que, no caso dos brinquedos, é possível de encontrar: no comércio tradicional, nas feiras artesanais, etc.); ou a famosa razão de “pelo menos damos trabalho a essas pessoas” – de facto, o emprego criado beneficia aqueles que dele retiram um salário; mas beneficiam em muito maior escala as cadeias internacionais, que produzem no oriente, vendem no ocidente, e têm sede em paraísos fiscais.

Há uma ordem económica global da qual não podemos fugir: nela vivemos, trabalhamos e consumimos. Mas talvez haja, quem sabe, «pequenos passos possíveis», difíceis certamente, que possamos dar (eu incluído): e talvez este Natal seja uma ocasião propícia para tal. Por exemplo: e se explicarmos aos nossos filhos que, se receberem uma quantidade exagerada de brinquedos, é porque, no outro lado do mundo, haverá alguém (se calhar, da mesma idade), que teve de trabalhar em condições muito difíceis?

Serão tais passos que nos ajudarão, como cristãos, a ser o «sal da terra»; ou caímos no risco de uma anestesia, de que nos alerta o Papa Francisco:

«A cultura do bem-estar anestesia-nos, a ponto de perdermos a serenidade se o mercado oferece algo que ainda não compramos, enquanto todas estas vidas ceifadas por falta de possibilidades nos parecem um mero espetáculo que não nos incomoda de forma alguma.» (Evangelii Gaudium, 54).

 

Rui Vasconcelos

 

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(1) http://www.chinalaborwatch.org/report/111

(2) http://www.bbc.com/news/business-30532463

(3) http://www.theguardian.com/world/2013/dec/08/bangladesh-factory-fires-fashion-latest-crisis;

http://www.bbc.com/news/business-24646942

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