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Esperança de um ano bom

O cristão e a cristã são discípulos do Ressuscitado e temos de viver a alegria da esperança. Cristo é a nossa esperança. Cristo em nós, esperança da glória. Olhando o mundo à nossa volta, vendo como terminou o Ano 2017, podemos correr o risco de “perder” a esperança no meio de tanta morte, tanta guerra, tanto ódio, tanto crime, tanta fome, tanta perseguição religiosa, tanto fanatismo, tanta violência, tanta injustiça, tanta ameaça nuclear, etc.

Mas é neste mundo que vivemos, é aqui que temos de ser homens e mulheres de esperança, confiando no amor do Pai, em Cristo Amigo e Salvador, na ação do Espírito, na proteção de Nossa Senhora, cujo Coração é o nosso refúgio. Temos de ser “sentinelas de esperança”, viver em nós e semear à nossa volta uma esperança que nasce da Palavra de Deus, da certeza que Ele está connosco, na certeza que a vitória é do bem, da graça, da força do amor.

Mas esta esperança renovada não é para viver só por causa do mundo que nos rodeia, pois a alma do mundo está doente, o coração do mundo está doente. Precisamos de a viver também e muito em Igreja, dentro da Igreja, onde, devido à fraqueza dos homens e mulheres, se notam muitos sintomas de doenças.

Diminui nesta velha Europa a prática dominical como diminuem os sacramentos do batismo e do matrimónio, não só porque há menos nascimentos, mas porque há menos fé, menos adesão a Jesus Salvador, menos compromisso cristão, menos participação na vida eclesial.

E dentro da Igreja que somos há divisões, há fanatismos, há retornos a um passado, quer na liturgia, quer nas opções. Há divergência em assuntos sérios da fé, como o pecado original, a virgindade de Maria, a riqueza do sacramento da Reconciliação. Pastores afirmam verdadeiras aberrações e confundem os fiéis. Ninguém pode afirmar que comungar na mão é pecado mortal como alguns fazem. Como ninguém pode impor que se comungue de joelhos como alguns fazem. Ninguém tem o direito de assumir o modo de ensinar a fé a seu jeito, esquecendo o que a Igreja, o Concílio Vaticano II, o Catecismo da Igreja Católica nos ensinam e nos mandam ensinar. O problema não parece estar no gostar ou não do Papa, mas no sentido profundo de comunhão, de unidade, de obediência que todos prometemos viver.

Precisamos de viver uma renovada esperança dentro da Igreja, em cada diocese e em cada paróquia, dentro das Congregações religiosas, como nos Movimentos apostólicos. Deus está connosco e nos ama e protege. O Espírito continua a proteger a Igreja e a inspirar e mover corações.

A nossa Mãe Igreja é divina e nunca ninguém conseguiu dar cabo dela. Esperamos a sua renovação, mesmo que seja difícil e lenta. Esperamos a sua fecundidade apostólica. Esperamos e confiamos na força e no dinamismo da oração de milhões de cristãos, na oferta redentora dos mártires de hoje, na intercessão dos santos. Esperamos uma renovada e fecunda vida eclesial nascida do Coração de Cristo, o Esposo que ama a sua Esposa, a Santa Mãe, a Igreja. E Maria Santíssima, a Mãe de Deus, não deixará de proteger a sua Igreja, de quem é Mãe e Rainha.

Ao longo dos séculos com centenas de Papas, alguns com vidas bem vergonhosas, com muitos bispos, padres e leigos hereges e cismáticos, a barca de Pedro sempre continuou caminhando nas águas, mesmo quando eram altas as vagas e fortes os ventos. Tenhamos esperança. Vivamos centrados em Cristo e deixemo-nos mover pelo Espírito Santo. Aceitemos com humildade a autoridade que nos governa no desejo sincero de uma determinada conversão. Cardeais, bispos, padres, religiosos e religiosas, leigos santos, humildes, obedientes farão renascer a esperança dentro da Igreja.

Deus ama a Igreja, e porque tem origem divina, apesar das provas e dificuldades, encontraremos caminhos de renovação, de abertura ao Espírito que faz novas todas as coisas. Não somos os “senhores” da Igreja, nem da Palavra, nem do Espírito. Na humildade dos nossos seres seremos fortes, inabaláveis, teremos a graça de discernir o melhor, a audácia de o colocar em prática. Seremos humildes em aceitar o que a Igreja ensina e manda, como Mãe e Mestra.

Cada um não pode, não deve, não tem direito a fazer as suas leis, as suas decisões sem a Palavra de Deus e a aprovação da Igreja. A Igreja é nossa Mãe mas não somos donos dela, nem da doutrina, nem das normas, nem do código, nem dos rituais, nem das mudanças a nosso belo prazer ou gosto pessoal. Falta-nos a humildade. Falta-nos o espírito de obediência. Falta-nos o amor à Igreja. Sejamos homens e mulheres de esperança. Jesus prometeu estar connosco até ao fim dos séculos.

 

Dário Pedroso, sj

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