Os nossos dias são mais normais e rotineiros do que extraordinários e diversificados. São mais de pressas, velocidades, despertadores com alarmes e notificações de urgência do que lentos e saboreados como os dias de Exercícios Espirituais ou de um campo de férias.
A nossa alma suspira constantemente por dias de descanso e oração, ao invés de pressas, emails e notificações. Ora, mas como é que se reza, saboreia e encontra Jesus em lugares e tempos pelos quais, aparentemente, a nossa alma não suspira?!
Há uns anos, depois do tempo de Natal, no regresso ao tempo comum, ao mês frio e infindável de janeiro, uma amiga partilhou comigo uma frase à qual regresso quase todas as semanas na minha oração da manhã, a caminho do trabalho, ou no exame do dia, à noite: “Faz o teu dever com muito amor e amarás o Senhor com toda a tua alma. A santidade consiste na humilde, diária e amorosa prática dos deveres do próprio estado. ‘Cada dia’, o humilde ‘cada dia’, o terrível ‘cada dia’, o monótono ‘cada dia’, o sereno ‘cada dia’, o amado ‘cada dia’ tem a grande dignidade de ser o lugar em que Deus pede a nossa adesão à sua vontade, para fazer que cresça em nós o homem novo, o filho, o herdeiro, capaz de servir os irmãos, acolhidos e amados como Filhos seus”.
Rezar estes aspetos faz-me encontrar em cada palavra um encontro com Jesus. Mostra-me que a adesão ao seu seguimento não é exclusiva dos consagrados, reforça no íntimo do coração que uma mãe a fazer o lanche para os seus filhos pode seguir Jesus da mesma forma que uma missionária consagrada na Índia. Mostra-me que a maneira como escrevo cuidadosamente um email e entrego bem o meu trabalho pode aproximar-me de igual forma de Jesus como se passasse a minha manhã numa oração contemplativa. A forma como interajo com os meus colegas de trabalho, ou pacientemente com a minha família, é tão difícil como viver em comunidades tão diferentes quando se é consagrado. E também que a medição do propósito de vida não se mede na carreira, nas horas trabalhadas nem na eficiência, mas que o equilíbrio do descanso saboreado me ajuda a viver mais perto do Coração de Jesus.
Ou seja, amar Jesus, saborear e encontrar o Amor de Deus em cada dia, em cada rotina, em cada vez que preferia estar num campo de férias ou nuns Exercícios Espirituais é uma graça e um olhar que nos é permitido desenvolver todos os dias. Encontrar Jesus em cada coisa é um exercício muito prático que procuro fazer diariamente – e, por isso, em muitas das coisas que faço, pergunto-me: “Senhor, como é que responderias? Como é que cuidarias? Como é que te farias presente?”. Não faço apenas isto ao fim do dia, vou fazendo num diálogo com Jesus. Uma conversa boa ao longo do dia.
A forma como o Senhor me fala toca sempre intimamente e delicadamente os detalhes de cada dia e, por isso mesmo, da oração vêm quase sempre rasgos de procurar ter estes detalhes com os outros e levar a tantos, que estão cheios de notificações e alarmes e nos monótonos e rotineiros cada dia, a esperança e a alegria, a perseverança do caminho e a verdade sem máscaras, que nos faz verdadeiramente livres.
Este caminho de saborear e encontrar é como o próprio nome indica: um caminho. Com altos e baixos, fases mais fáceis de ver Deus do que outras, intercaladas com queixas e reclamações do tipo: “Senhor, esqueceste-te de mim?!”. Sabendo que tudo é uma evolução – o caminho faz-se caminhando – Jesus encontra-se vivendo com plenitude e sem fingimento cada dia.
Esta oração/encontro de todos os dias é diferente de há dez anos (quando o tempo da universidade era menos monótono), mas uma só coisa (a mais importante) não mudou: no Coração de Jesus há sempre lugar para mim, em cada monótono dia. Exatamente da mesma forma que há quando estou em Exercícios. Com detalhes e cuidados de um Deus que toca e encarna na minha realidade, com as dores, alegrias, esperanças e sofrimentos de cada dia.
Maria Teresa Folhadela In Mensageiro do Coração de Jesus