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Eficiência do descanso – Aprender a descansar

Na azáfama da rotina de um dia a dia de trabalho, de um dia dito “normal” de semana, é muito fácil deixarmo-nos embrenhar pelo ritmo do mundo. O nosso tempo está organizado em função das nossas tarefas, dos nossos afazeres. A vida segue pautada pelo metrónomo do nosso belo quotidiano, sempre audível, sempre presente.

Porém, uma peça musical não se faz só de melodia, nesta estão igualmente incorporados os silêncios. Esta ausência pode não só dar importância à melodia, como pode levar ao encontro do seu propósito, revelando-se ingrediente essencial para o determinar do ritmo de tal peça (diga-se, da vida).

Dar tempo para que Deus se manifeste em nós, dar espaço para que a sua voz se faça ouvir pode ser tarefa difícil. Onde é que arranjo espaço para “ouvir” o silêncio, para me deixar tocar?

Recentemente, a propósito de uma viagem que me encontrava a realizar pela Índia, sozinho e por um período alargado, fui aconselhado por um amigo a não planear tudo, a deixar um “vazio” na organização da minha viagem.

Aceitei a proposta e deixei as últimas semanas da minha “expedição” por decidir. À medida que o tempo ia passando e a última parte da minha estadia se ia aproximando, comecei a ficar desconfortável e em certa medida inquieto, pois ainda não sabia o que queria. Decidiria com base nos apetites? Pode ser lícito, mas não me apetecia visitar mais monumentos culturais ou estar na bela vida de praia, de “papo para o ar”. Juntava-me a algum grupo de viajantes que encontrasse no caminho? Porém, a realidade é que tais grupos não existiam, fruto da “low-season” turística que se sentia na Índia. “Que queres de mim, Jesus?”, perguntava eu.

Por aqueles dias, estava a ler a “A Cidade da Alegria”, um livro sobre a caótica cidade de Calcutá e as pessoas que nela habitam, da autoria do Dominique Lapierre. Enquanto realizava uma viagem de comboio, ao trocar de comboios, devido à confusão que lhe é inerente, particularmente na Índia, acabei por perder o livro, juntamente com uma toalha e os chinelos… No meio da irritação para comigo próprio e ainda na procura do sentido do momento, começou a surgir uma ideia, que ainda não tinha ganho grande expressão no meu itinerário. De modo que pensei para comigo próprio: já que fiquei a meio da história sobre Calcutá, porque é que não vou ver esta realidade com os meus olhos?

Que queres de mim, Jesus? A resposta a esta pergunta apresentou-se nas maravilhosas pessoas e nas suas histórias, que tive a oportunidade de conhecer enquanto estive nesta cidade, que tanto se revela na sua beleza, como na sua dureza.

Dar espaço ao silêncio, à voz de Deus, nem sempre é fácil pelas obrigações inerentes da nossa vida.

Poderá o descanso constituir uma oportunidade para recalibrarmos o nosso metrónomo, o nosso ritmo, o sentido com que vivemos a vida? Uma coisa é certa, não pode haver música sem silêncio, tal como não há criação se não existirem vazios.

Manuel Lopes Cardoso

In Mensageiro do Coração de Jesus, agosto/setembro 2024

© Ravi Sharma (Unsplash.com)

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