fbpx

Educa o que sentes

Tende entre vós os mesmos sentimentos, que estão em Cristo Jesus (Fl 2, 5).

«Como é que se diz?» A frase tantas vezes repetida, enquanto estendíamos as mãos e esbugalhávamos os olhos, esperando rasgar vorazmente o presente que acabávamos de receber, pode soar a imposição adulta limitadora da espontaneidade infantil. Se seguisse o que sentia, a criança que fomos rapidamente viraria costas ao seu benfeitor e fugiria para algum canto onde pudesse experimentar o brinquedo novo. Mas se o pai ou a mãe lhe dissessem: «Agradece, guarda o brinquedo e logo vemos se precisas de o abrir já», a criança seria ensinada a agradecer e a saber esperar. No caso de já ter um igual ou parecido, podia ainda ser ensinada a partilhar com alguma criança da sua idade, a quem nunca seria dado um brinquedo por estrear.

Mas então as crianças devem ser ensinadas a reprimir sentimentos? Nada disso! É até bom que possam expressar os sentimentos mais violentos que as habitam. Imaginemos que, ao arrumar o quarto, desarrumado pela irmã mais nova, o João diz num entredentes percetível pela mãe: «Para que é que esta miúda nasceu?». Mais do que ralhar, a mãe do João pode aproveitar a primeira oportunidade que tenha para o ajudar a desenvolver sentimentos de empatia pela irmã e para estimular gestos de cuidado e ternura.

Uma boa ocasião pode ser a hora de deitar. Antes de rezar, a mãe pode dizer ao ouvido do João: «És um filho muito especial para mim. Gosto muito de ti». A seguir, pode acrescentar: «Os meus filhos são todos muito especiais para mim. Gosto muito de todos!» E ainda: «Sabes, João, quando nasce mais uma criança, Deus fica muito contente. Todas as crianças e todas as pessoas são especiais e únicas para Deus. Não há duas pessoas iguais, mas Deus ama a todas igualmente, mesmo quando alguma faz ou diz disparates! Foi também isso que Jesus nos ensinou quando disse: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”. Mas Ele precisa da nossa ajuda para cuidarmos uns dos outros, sobretudo dos mais pequeninos». E, como quem não quer a coisa, pode ainda lembrar ao João: «Já foste dar um beijinho de boa noite à tua irmã? Ela ainda não adormeceu…».

A gratidão, a paciência, a sensibilidade ao outro são dons de Deus. Não foram inventados por nós. Mas é possível ir criando na criança disposições que a tornem capaz de acolher esses dons. Ensinar a dizer obrigado, fortalecer a capacidade de espera, fomentar momentos de perdão e partilha, desenvolver a capacidade de compreender e acolher o outro e os seus sentimentos são modos muito concretos de educar a criança para que tenha os sentimentos de Jesus.

Amor, gratidão e empatia são emoções profundas que não se improvisam. Aprendem-se pelo exemplo e pela experiência bem educada. Talvez ressoe na nossa memória um slogan antigo: Segue o que sentes. Se lhe trocarmos as voltas, chegamos a um ótimo lema cristão: Educa o que sentes.

 

Domingas Brito e José Maria Brito, sj

Ilustração: www.damadearroz.com

(in Mensageiro do Coração de Jesus – Abril 2016)

Atualidade

Meditação Diária

Seleccione um ponto de entrega