Ao ler as principais notícias do dia, num destes dias, chamou-me a atenção um artigo da revista Visão que dava conta de que há escolas que decidiram não celebrar o Dia do Pai e o Dia da Mãe para não ferirem a suscetibilidade de algumas crianças que moram só com a mãe ou só com o pai, as que têm dois pais ou duas mães ou as que vivem com os avós ou em instituições. Estas escolas, dada a diversidade de realidades familiares, optaram por comemorar o Dia da Família.
E as crianças que vivem com os pais e que representam a larga maioria? E as crianças que não vivem com os pais mas têm uma boa relação com eles? E as crianças que encontraram nos avós e nas instituições figuras de referência que, nestes dias, podem ser agraciados como pais ou mães? E se estas escolas, em vez de iludirem a realidade, contribuíssem para a construção de melhores laços e relações entre famílias desavindas?
A primeira família é o pai e a mãe e é nesta primeira instância da família que se deve apostar, tendo sempre como objetivo principal o bem e a vontade da criança. Todas as crianças têm um pai e uma mãe e não há nada que mude isso. Tem é de se compreender a realidade de cada criança, de cada família e ajudá-las a ultrapassar as dificuldades, a ser e a crescer em família (ou sem ela). As crianças privadas da presença e, em muitos casos, do amor do pai e/ou da mãe vivem essa triste realidade todos os dias do ano, não apenas em dias específicos. E isso sim deve preocupar a escola e muitas outras instituições com responsabilidades acrescidas nesta matéria.
Esta notícia remeteu-me para uma outra do jornal Liberation sobre a polémica legislação aprovada, no início deste mês, em França, e que prevê que as escolas francesas substituam a denominação pai e mãe por responsável 1 e responsável 2. A ideia é substituir os termos tradicionais por termos neutros, uma vez que os formulários administrativos atuais não aceitam famílias do mesmo sexo. Neste contexto, a deputada Valérie Petit, do partido REM, explicava que há famílias que não querem estar presas a modelos sociais e familiares bastante antiquados e, por isso, a necessidade de se criar uma medida de igualdade social, que deve ancorar a diversidade da família na lei.
Haverá melhor testemunho contra os conceitos básicos de família? Onde está a igualdade quando se apagam conceitos e até direitos de uma maioria (aquela maioria, se não totalidade, que sustenta há séculos toda a sociedade) para afirmar as generalidades de uma minoria? É desta forma que se caminha para a desumanização da parentalidade, da família, da sociedade em geral.
Na exortação apostólica A Alegria do Amor, o Papa Francisco refere que ambos, homem e mulher, pai e mãe ( ) juntos ensinam o valor da reciprocidade, do encontro entre seres diferentes, onde cada um contribui com a sua própria identidade e sabe também receber do outro. Se, por alguma razão inevitável, falta um dos dois, é importante procurar alguma maneira de o compensar, para favorecer o adequado amadurecimento do filho.
Hoje é Dia Internacional da Família. Se pensarmos na quantidade de pessoas que não tem família, que vive longe da família ou sem ligações à família, sobretudo os idosos que vivem sós, seguindo a lógica do não ferir suscetibilidades, temos também de abolir o Dia Internacional da Família.
Em nome do bom senso, do respeito por todos, da dita igualdade na diversidade, do equilíbrio pessoal, familiar e social, comemore-se sempre o Dia do Pai, da Mãe e da Família e que, em todos os outros dias das nossas vidas, sejamos capazes de nos afirmar como pais, mães e famílias. Feliz Dia da Família!
Elisabete Carvalho