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Das obras de misericórdia espirituais: “Ensinar os que não sabem”

Nem todos têm o privilégio de poder estar a abrir uma pequena escolinha para ensinar as crianças e jovens mais pobres. Pois eu tenho-o e sinto-me agradecido por isso. Um privilégio em detrimento de outros que Deus dá a outras pessoas. Uma escolinha de reforço escolar, de reforço para a vida.

Aconteceu que tinha instalações amplas e bem equipadas, as salas da catequese recém inauguradas, e que as mais importantes escolas, no lugar onde vivo, ficassem a menos de um quilómetro da Catedral. Um grande número de crianças oriundas dos bairros mais pobres todos os dias vem ali estudar. Aconteceu também que um dia me apareceu um grupinho de quatro crianças no meu gabinete para me mostrar os resultados dos testes que acabavam de receber. Imaginei que me fossem mostrar excelentes notas (todas as crianças gostam de mostrar o que «sai bem na fotografia»), mas não, enganei-me!Mostraram-me, uma após outra, as negativas que tinham recebido, como se me dissessem: precisamos de ajuda. A letra de todas elas era bem feitinha e as folhas não estavam amarrotadas, mas os erros que mostravam eram erros de segundo ano, todas elas estavam no quinto ano…

No meu gabinete estava uma fiel colaboradora de todos os dias, olhei-a e deixei as crianças saírem. Iam um pouco mais animadas, pois prometi-lhes ver o que podia fazer para resolver o problema das negativas. Partilhei assim com esta amiga a possibilidade remota de usar as salas de catequese para dar apoio às crianças mais pobres que por aqui passassem. Do primeiro ao sétimo ano. As professoras seriam professoras aposentadas que ainda têm o desejo e a paixão de dar aulas. Pensei numa hora e meia de estudo acompanhado, a seguir ao qual lhes daríamos um pequeno lanche. Depois, uma atividade artística e desportiva durante uma hora. Três dias por semana, para não se cansarem. O nome da escolinha: “Santo Inácio de Loyola”, o santo ignorante que se deixou instruir por Deus.

Agradou-lhe a ideia. Com o tempo, fomos falando do assunto e vendo as suas possibilidades, como arranjar professoras aposentadas e confrontar a ideia com algumas autoridades, nomeadamente o Sr. Bispo. Desde que as crianças souberam desta possível resolução do problema das suas negativas não se cansam de perguntar pela escolinha: «Quando abre, padre?». Neste momento já há autorização do Ministério da Educação para dar explicações no espaço da Catedral e marquei a abertura para o início do terceiro período escolar.

Este desejo de ensinar os ignorantes faz parte intrínseca de mim mesmo, eu, que me sinto o primeiro dos ignorantes. É desejando que os outros aprendam que eu aprendo. Faço assim um esforço por reconfigurar e reorganizar o que outros me ensinaram, para transmitir o que recebi fidedignamente. E foram muitos.

Sinto alegria por ver que o sonho se pode materializar quando é bom e há esforço. Que o mundo se pode mudar através de pequenos gestos cheios de boa vontade. Sei que é uma aventura em que entro como muitas outras mas que não estou só, pois sei que é obra d’Ele. Dá-me alegria só de imaginar que estes petizes que em casa não têm um lugar para pousar o livro nem uma mão para lhes corrigir os erros possam encontrar aqui a sua segunda casa, a sua segunda escola, um lugar onde se aprende a sonhar com os pés na terra.

 

Alexandre dos Santos Mendes, sj

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