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Da Oração

«Não façais como eles, porque o vosso Pai celeste sabe do que necessitais antes de vós lho pedirdes» (Mt 6, 8).

«De todas as vezes que rezei não foi por devoção. Foi para me lembrar. Porque só rezando me chegavam as lembranças de quem fui». (Mia Couto, O outro pé da sereia)

Ao falarmos sobre a oração, tendemos a centrar o nosso diálogo, quer nas suas formas e métodos, quer na sua justificação ou sentido. Perguntamo-nos sobre qual o melhor caminho, se a oração de petição ou de ação de graças, a oração vocal ou silenciosa, a oração litúrgica da Igreja ou a oração pessoal do terço, etc. A tradição da Igreja representa uma fonte de sabedoria inesgotável na hora de trilhar este itinerário, na companhia de um mestre ou de uma comunidade; mas cada pessoa representa um mistério, um tecido de experiências únicas, que a conduzem no seu próprio peregrinar.

A questão muitas vezes esquecida quando falamos de oração é a questão da imagem de Deus que habita na nossa mente, nos nossos sentidos e no nosso agir. Nada tem de medíocre ou de simplista trazer para uma oração de petição, frequente, a necessidade de um emprego, de saúde ou de paz: falamos de realidades fundamentais do nosso dia a dia, vitais quer para nós, quer para os nossos próximos. A questão reside na imagem de Deus que experimentamos: de um deus-juiz, que pode atribuir arbitrariamente um emprego ou conceder a superação de uma doença, ou de um Deus de compaixão, cujo Espírito nos ensina a esperança?

«Pelos seus frutos, os conhecereis» (Mt 7, 16). A grande conversão está na imagem de Deus que reconhecemos, e que é fruto das experiências pessoais que a nossa história transporta, marcada pelo pecado de que somos responsáveis e pelo pecado de que somos vítimas (como o trigo e o joio, tão difíceis de separar). É essa imagem que molda o nosso agir. Assim, até uma oração meditativa ou silenciosa pode cair no erro farisaico, se levar a uma justificação de si mesmo (da sua maneira de pensar, de agir) e a um desprezo dos demais (Lc 18, 9). Do mesmo modo, até a oração mais simples, com as repetitivas palavras próprias de uma criança, pode tornar-se numa escola de caridade, de esperança e de perdão.

 

Rui Pedro Vasconcelos

Imagem: O Semeador, de Vincent Van Gogh (1888)

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