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Busca-te em Mim

Teresa de Ávila, num poema intitulado Busca-te em Mim, dança com a mútua presença do Senhor na sua vida: afinal, quem é templo de quem? Quem busca a quem? Quem habita em quem? Assim diz o Senhor à orante:

 

Alma, buscar-te-ás em Mim,

a Mim buscar-me-ás em ti.

 

Num primeiro movimento, a orante sente-se perdida na busca da sua vida, da sua identidade, do seu caminho. Dos escrúpulos aos ressentimentos, das perseguições aos falsos testemunhos, o nosso olhar perde-se no curso dos dias e dos passos. Urge-nos escutar uma Palavra de amor, um amo-te capaz de recriar o equilíbrio e o excesso que moldam a beleza do que somos, a nossa vocação primeira e nunca perdida. Assim o escuta a orante:

 

Foste por amor criada

formosa, bela, e assim

em meu coração pintada;

se te perderes, minha amada,

Alma, buscar-te-ás em Mim.

Pois Eu sei que te acharás

em meu peito retratada.

 

Só uma Palavra de graça nos pode colocar num caminho de busca do Senhor, isto é, de santidade. De outro modo, o desejo de santidade converte-se num esforço violento e amargo, como nos é exposto nos retratos do filho mais velho (Lc 15, 25), do sacerdote e do levita (Lc 10, 31-32). O desejo que nos é suscitado e alimentado leva-nos a buscar, perdidos, o rosto do Amado, sentindo-O ausente, tal como na manhã do Primeiro Dia (Jo 20, 13). A experiência da ausência abre o coração para a descoberta da presença mais próxima, mais fiel, mais persistente.

 

Se acaso não souberes

onde me acharás a Mim,

não vás daqui para ali.

Se não, se achar-me quiseres,

a Mim buscar-Me-ás em ti.

Porque és o meu aposento,

és minha casa e morada,

e assim chamo em qualquer tempo,

se acho no teu pensamento

estar a porta fechada.

 

Diz o Papa Francisco, muito acuradamente, na sua Exortação Gaudete et Exsultate: «Dissemos tantas vezes que Deus habita em nós, mas é melhor dizer que nós habitamos n’Ele, que Ele nos possibilita viver na sua luz e no seu amor. Ele é o nosso templo» (n. 51). Talvez a santidade se aproxime a isto: a esta presença recíproca, em abertura circular, na qual a origem e a primazia são sempre concedidas à Graça, à beleza, à gratidão. Assim, cada um dos amantes dirá ao outro: «és o meu aposento», «és o nosso templo».

 

NA: A tradução do poema de Teresa de Ávila é de José Bento, in Santa Teresa de Ávila, Seta de Fogo. 22 poemas, Lisboa 2011.

 

Texto: Rui Pedro Vasconcelos

Imagem: Caspar David Friedrich, Der Mönch am Meer (“O monge à beira-mar”), século XIX.

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