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Ano centenário das Aparições de Fátima

Como vai ser o ano 2017, o tempo dirá. Da minha parte apenas desejo que seja o que Deus quiser e os homens deixem que seja. Hoje fala-se e escreve-se com demasiada frequência sobre o desmoronamento do projeto europeu, chegando a ouvir-se anúncios catastrofistas do fim da civilização ocidental. Há sinais de mal-estar, para não dizer de má consciência e desnorte, acompanhados da consciência de valores perdidos em favor de relativismos de toda a ordem, de insegurança e medos e do salve-se quem puder no meio de acusações mútuas. No caso português, também começam a ouvir-se vozes pessimistas de fim de regime. E, no entanto, acredito, que pode bem ser um ano de graça se quisermos e soubermos aproveitar o Centenário das Aparições de Fátima para uma reflexão profunda sobre os caminhos que coletivamente estamos a percorrer e tivermos a coragem de mudar de vida na linha da mensagem que Fátima nos transmitiu. As celebrações do Centenário, com o seu ponto alto nos dias 12/13 de maio próximo no Santuário de Fátima, com a presença do Papa Francisco, são já em si uma graça e uma “provocação”.

O Centenário das Aparições leva-nos obrigatoriamente para o drama europeu de 1917 (a revolução comunista na Rússia e a 1ª Grande Guerra Mundial com tudo o que isso significou) e, no caso português, para o 5 de outubro e a implantação da 1ª República, cujas consequências não foram assim tão meigas como nos querem fazer crer (não sei mesmo se não estaremos ainda a pagar por elas), mas leva-nos também com o olhar e o pensamento para a ação misteriosa de Deus a trabalhar naquele contexto histórico através de três crianças (Lúcia, Francisco e Jacinta) de tenra idade, ao ponto de a sua mensagem se impor à Igreja, ao país e ao mundo. E a trabalhar continua Deus, felizmente para bem nosso e da humanidade.

As pessoas fixam-se muito no fenómeno em si das aparições (milagre do sol, etc.), quando o importante é o que ali, naquele lugar insignificante, desconhecido e sem história chamado “cova” da Iria, começa a nascer e a crescer: uma história que, contra ventos e marés, chegou até nós numa caminhada, para já, de cem anos. E que não era uma história de crianças (tipo carochinha), nem sequer de homens (que tudo fizeram para que não existisse), mas de Deus. O milagre que verdadeiramente importa realçar é o que aconteceu e continua acontecendo naquele Santuário de Nossa Senhora de Fátima para onde continuam a correr milhares e milhares de peregrinos vindos de todas as partes do mundo.

Não sei se 2017 vai ser um ano parecido com os contextos da nossa 1ª República e da revolução comunista de 1917; penso, porém, que as Aparições de Fátima, olhadas com atenção e fé, podem ajudar e muito a encontrar caminhos e soluções para os grandes desafios que hoje se colocam a todos nós no momento presente das nossas histórias coletivas. E saber que Deus está metido nesta embrulhada é meio caminho andado para não perdermos a paz e continuarmos a lutar por aquilo em que acreditamos. Porque Deus está connosco. E Maria, a Mãe de Jesus, também.

Quer queiramos quer não, o ano de 2017 ficará sempre ligado a 1917 pelo Centenário das Aparições; para a nossa história como “2017 – Ano Centenário das Aparições de Fátima”; para a nossa devoção ficará certamente a marca indelével do carinho misericordioso de Deus de que o Papa Francisco é portador. Ficará, espero e espero que perdure, o “mimo” de Deus e a “ternura” de Maria, a “Nossa” Senhora de Fátima.

 

Texto: A. da Costa Silva, sj

Imagem: Santuário de Fátima

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