«O Coração do Salvador convida a subir de novo ao amor do Pai, que é a fonte de todo o amor autêntico»1
O Caminho do Coração, no seu primeiro passo, convida-nos a reconhecer o quanto somos amados. O amor é o fundamento da nossa vida, pedra sobre a qual assenta a construção da nossa existência, pois fomos criados pelo amor, para sermos amados e para amar. «É nisto que consiste o amor: não fomos nós que amámos a Deus, mas foi Ele mesmo que nos amou e enviou o seu Filho» (1 Jo 4, 10).
Mas… O que colocamos por detrás da palavra Amor? O que significa na nossa vida concreta sermos amados? O amor é uma realidade sempre presente, não é algo circunstancial ou próprio de uma época ou etapa. O Amor é a realidade de Deus, o Amor que é comunhão, o Amor que nos é revelado em Jesus Cristo que nos amou até onde não podemos amar mais, até ao extremo de dar a vida, de a dar por amor, gratuitamente, sem pedir nada em troca. «O lado trespassado é ao mesmo tempo a sede do amor, um amor que Deus declarou ao seu povo com tantas palavras diferentes que vale a pena recordar: “És precioso aos meus olhos, […] te estimo e te amo” (Is 43, 4). “Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebé, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, Eu nunca te esqueceria. Eis que Eu gravei a tua imagem na palma das minhas mãos” (Is 49, 15-16)».2
Amar é essencialmente dar-se, quem ama dá-se, entrega-se e sai de si para comunicar amor aos outros. É por isso que cada um de nós e toda a nossa realidade, toda a Criação, têm origem no Amor do Senhor que se dá, que comunica e que dá a Vida, a sua Vida! A nossa existência e tudo o que a rodeia só pode ser compreendida como fruto desse amor de Deus que é doação. «O Coração do Salvador convida a subir de novo ao amor do Pai, que é a fonte de todo o amor autêntico».3
Sim, aceitamos (podemos?) que estas palavras possam descrever de algum modo o Amor de Deus por nós, é esse amor incondicional e gratuito que somos convidados a reconhecer na nossa vida quotidiana. Esta força constantemente criadora que continua a dar vida à nossa realidade a cada momento, em tantas pessoas, em tantos momentos, circunstâncias, detalhes concretos que nos são dados diariamente… O ar, o sol, os seres que amamos, pouca ou muita saúde, o nosso corpo, a capacidade de fazer as coisas, de falar e de ouvir… O Senhor ama-nos de forma concreta, naquilo que vivemos todos os dias. Não é um amor genérico ou teórico, está encarnado naquilo que vivemos diariamente. É um amor real e gratuito.
Reconhecê-lo abre-nos a duas atitudes: por um lado, ao agradecimento por um dom tão imerecido que não poderíamos dar a nós mesmos, somente o Senhor é a fonte do Amor; e, por outro lado, a responder com amor por tanto amor recebido, amando os outros e a nossa realidade concreta, dando-nos gratuitamente. «Portanto, o centro mais íntimo da nossa pessoa, criado para o amor, só realizará o projeto de Deus enquanto amar
«Tudo está unificado no coração, que pode ser a sede do amor com todas as suas componentes espirituais, psíquicas e também físicas. Em última análise, se aí reina o amor, a pessoa realiza a sua identidade de forma plena e luminosa, porque cada ser humano é criado sobretudo para o amor; é feito nas suas fibras mais profundas para amar e ser amado».5
O Caminho do Coração convida-nos a reconhecer essa presença amorosa ao longo da nossa história, nas pessoas, tempos e lugares que fazem parte da nossa vida, agradecendo e ponderando a nossa capacidade de responder a esse amor, amando os outros.
Podemos acolher este convite e reservar um tempo todos os dias para voltar ao coração e perguntar-nos: Onde e como é que o amor de Deus se tornou presente para mim hoje? Em que momentos me senti amado pelo Senhor através do que vivi? O que quero agradecer e dar em resposta a tanto amor gratuito recebido d’Ele?
1 João Paulo II,Mensagem por ocasião do centenário da consagração do género humano ao divino Coração de Jesus (Varsóvia, 11 de junho de 1999), citado por Papa Francisco em Dilexit nos, Carta Encíclica sobre o amor humano e divino do Coração de Jesus, outubro 2024, n. 77.
2 Dilexit nos, n. 99.
3 João Paulo II, Mensagem por ocasião do centenário da consagração do género humano ao divino Coração de Jesus (Varsóvia, 11 de junho de 1999), citado por Papa Francisco em Dilexit nos, Carta Encíclica sobre o amor humano e divino do Coração de Jesus, outubro 2024, n. 77.
4 Dilexit nos, n. 59.
5 Dilexit nos, n. 21.
Bettina Raed | Vice-diretora internacional da Rede Mundial de Oração do Papa
(In Mensageiro do Coração de Jesus, março de 2025)