Para muitos, o Hanukkah, a Festa das Luzes vivida nesta época pelos judeus, parece uma versão do Natal estendida por oito dias. Há presentes, luzes, velas e milagres. Tudo parece, à partida, muito semelhante às tradições natalícias. Mas, na verdade, é uma festa muito diferente.
O Hanukkah, que quer dizer ‘dedicação’, é uma festividade judaica que comemora o milagre da luz. Tem a duração de oito dias e começa no 25º dia do Kislev (um dos 12 meses que compõem o calendário judaico, que se baseia no calendário lunar). Trata-se de uma festa móvel no calendário civil, podendo calhar em novembro ou dezembro. Este ano, a festa iniciou-se ao pôr-do-sol de 12 de dezembro e termina durante a tarde do dia 20 de dezembro.
O Natal, por sua vez, é uma das mais importantes solenidades do calendário cristão. A 25 de dezembro, celebramos o nascimento do Filho de Deus e nosso Salvador, Jesus Cristo. Os cristãos acreditam que o nascimento de Jesus foi anunciado pelos profetas de Israel e que Ele é o Messias prometido como salvador.
Os acontecimentos
No Hanukkah, celebra-se a revolta de Judas Macabeu e consequente derrota dos gregos e reconstrução do Segundo Templo, em 160 AC. Durante a cerimónia de dedicação, o candelabro, chamado menorah, foi aceso e as suas velas deveriam manter-se acesas ininterruptamente. Todavia, só havia, no templo, óleo suficiente para manter as velas acesas por uma noite. Deu-se, então, um milagre: as velas duraram oito noites consecutivas. Essas oito noites são celebradas todos os anos durante o Hanukkah.
No Natal, celebramos o nascimento de Jesus, luz que ilumina os povos da Terra e liberta de todas as opressões. Cristo fez-Se carne no seio da Virgem Maria, nascendo em Belém, na Judeia.
A luz
O candelabro (menorah) é um símbolo de vitória sobre o inimigo. A versão utilizada durante a Festa das Luzes chama-se ‘hanukkiah’ e apresenta oito braços, com uma vela maior ao centro (shammash). Este candelabro é exibido à janela durante as oito noites de Hanukkah.
No Natal, acendem-se as luzes nos pinheiros e as velas nas coroas de Advento, e aguarda-se a chegada do Deus Menino. No presépio, a estrela de Belém marca o local onde o Messias nasceu. Na noite de consoada, na véspera de Natal, a família reúne-se à mesa para festejar o nascimento de Jesus Cristo.
Os presentes
Em ambas as festividades, são trocados presentes. No Hanukkah, são tradicionalmente meras bagatelas. Durante a festividade, joga-se o rapa e tenta-se recolher o máximo de moedas de chocolate.
No Natal, as prendas são oferecidas pelo Menino Jesus ou por São Nicolau (o Pai Natal), conforme a tradição.
A comida
Durante o Hanukkah, a comida alude ao milagre: comem-se filhós, sonhos, bolas de Berlim, latkes (panquecas de batata), ou seja, doces fritos em óleo.
No Natal, a gastronomia é variada e, em Portugal, existem muitas diferenças regionais. Do polvo ao bacalhau, passando pelo peru, a consoada e o almoço de Natal terminam com os doces de Natal: rabanadas, aletria, filhós, arroz doce, sonhos, mexidos e o Bolo Rei.
Importa não ignorar as diferenças entre o Hanukkah e o Natal. O primeiro celebra um milagre de Deus em favor do seu povo. O segundo celebra o Deus todo poderoso que Se faz um de nós e vem habitar connosco. Há, no entanto, semelhanças que também vale a pena apreciar: quer no Natal, quer no Hanukkah, as tradições recordam-nos histórias extraordinárias que se passam nas situações mais improváveis. Aprendemos, com estas narrativas, a estar recetivos ao que nos rodeia e a acolher o divino. Ambas as festas falam de um Deus capaz de iluminar as trevas do mundo, levando a esperança a quem vive em desespero. Qualquer ato que nos leve a encontrar a luz nas nossas vidas e no mundo capacita-nos a ajudar os outros a fazer o mesmo.
Esta é uma época de aproximação e de amor, uma época em que impera a generosidade de dar e receber. Oxalá consigamos guardar este sentimento connosco e pô-lo em prática no ano que se avizinha.
Betânia Ribeiro
