Por estes dias, somos confrontados com uma diversidade de datas marcantes na sociedade civil e no âmbito religioso, que absorvem a nossa atenção e, nalguns casos, nos fazem despender mais uns quantos euros.
Quis o calendário deste ano que as montras das lojas tivessem que arranjar simultaneamente espaço para os apelos comerciais relacionados com o Dia de S. Valentim e com os festejos de Carnaval.
Porque estas são datas vendáveis, o vermelho dos corações e da mais variada panóplia de artigos associados ao dia dos namorados misturou-se com máscaras de todos os tamanhos e feitios, fantasias carnavalescas das mais diversas personagens, serpentinas e confettis.
Os comerciantes fazem o seu papel, porque, se estão de portas abertas, querem vender o mais possível. Mas os consumidores têm de saber discernir e fazer opções, uma atitude que ainda se torna mais pertinente num contexto de dificuldades económicas como o que atravessamos. Porque o amor que se tem a alguém ou o eventual sucesso num desfile de Carnaval dependem mais da imaginação de quem não gosta de deixar passar estas datas em claro uma atitude perfeitamente legítima do que do valor da lembrança que se possa oferecer ou do disfarce que se possa vestir.
Passada esta onda, as lojas provavelmente já começam a pensar nas estratégias e nos apelos que vão fazer por ocasião das próximas datas vendáveis: Dia do Pai, já daqui a poucas semanas, Dia da Mãe, passado algum tempo, Dia da Criança, umas semanas adiante… e não muito longe… o novo regresso às aulas, etc., etc…
Neste contexto, que lugar ocupa a Quaresma, que está a começar? Trata-se de uma época particularmente intensa em termos de vivência da fé cristã, que culmina com a Páscoa da Ressurreição, a celebração mais importante do calendário litúrgico.
Estes quarenta dias convidam-nos a uma caminhada, sobretudo interior, mas também marcada por alguns sinais exteriores. Jejum e abstinência (de alimentos, mas também de outras coisas que podemos deixar de lado por algum tempo), esmola e oração são apelos que não nos devem deixar indiferentes.
Não andemos tristes nem pesarosos, mas aproveitemos as nossas renúncias, as nossas ofertas e os nossos tempos de oração mais intensa para fazer um caminho de crescimento interior, que não termine na celebração da Páscoa, mas tenha continuidade na nossa vida.
A Quaresma não está à venda nas montras das lojas, simplesmente porque não é vendável. A Quaresma sensibiliza precisamente para atitudes e gestos que contrariam a tendência de consumismo que se vem implementando cada vez mais. Perante isto, façamos o que nos compete, façamos a nossa caminhada, para que este seja um tempo de transformação, que nos complete e faça de nós pessoas mais felizes.
Santa Quaresma!
Cláudia Pereira