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A propósito do ataque aos judeus apoiantes da sua equipa de futebol em Amesterdão

Segundo ouvi em órgãos de informação, o ataque aos judeus apoiantes da sua equipa de futebol, em Amesterdão, deu-se perante a passividade da polícia que, não esqueçamos, recebe as suas ordens do Ministro do Interior, e perante a apatia da população.

Isto levou-me a pensar nos primeiros ataques dos nazis aos judeus, antes mesmo de estarem no poder. O governo de então não os impediu e as pessoas encolheram-se, não fosse a violência virar-se contra elas, também. Depois, foi o que se sabe.

A reação das pessoas em Amesterdão levou-me a compreender melhor a reação dos alemães do começo dos anos 30 perante os espancamentos e assassinatos dos judeus pelas forças paramilitares nazis. Suponho que nas duas ocasiões a reação das pessoas terá sido qualquer coisa como: “Deixa-me estar quieto senão ainda apanho também”.

Face a isto, como é que reagiríamos se estivéssemos na pele de um alemão comum não judeu? Normalmente vamos com a massa.

Daí que seja tão importante pensarmos pela nossa cabeça.

Em Portugal, salvo as devidas e imensas proporções, tivemos algo que se assemelha um pouco a esta situação. Depois do 25 de abril, algumas pessoas, ou por serem ricas, ou por terem colaborado com o anterior regime, ou simplesmente porque foram arbitrariamente apelidadas de fascistas, foram saneadas dos seus empregos, perseguidas e presas. Algumas foram de tal maneira ameaçadas que preferiram emigrar. Normalmente não se usa este termo “emigrar”, mas foi isso que aconteceu. Essas pessoas não foram para a praia de Copacabana apanhar sol e viver dos rendimentos, que aliás muitas já não tinham. Na altura, não era de bom tom defendê-las e os poucos que o fizeram foram, no mínimo, ameaçados. Aquelas pessoas eram apontadas como a causa de todos os males em Portugal. Tal como os judeus na Alemanha.

Se em vez dos apelidados fascistas a revolução tivesse perseguido judeus, reagiríamos – nós todos os que ficámos a assistir – de maneira diferente?

Ser cristão implica duas coisas. Ter-se uma cabeça para pensar por si mesma, para pensar independentemente do ambiente que nos rodeia e querer partilhar a cruz de Cristo. Caso contrário, não somos cristãos. Somos só pessoas que vão à missa. Ou nem isso. Ir à missa está longe de bastar para se ser cristão. Se quando um irmão nosso é espancado e nós deixamo-nos ficar e quedos não somos cristãos por muitas missas a que vamos.

Gonçalo Miller Guerra, sj

© Akmal Ayyash (Unsplash.com)

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