A vida compreende-se a partir da sua meta. A partir da linha de chegada, intui-se o percurso a percorrer. A semente é julgada a partir da colheita, da ceifa. A vida do homem, diz o Apóstolo, é como a semente deitada à terra (1Cor 15, 37). É do rebento que se vê o valor do grão e do terreno. Quando se está diante da vida, é fácil filosofar. Alguns, constatando que escolheram uma estrada que não conduz à vida autêntica, começam a filosofar para justificar os seus passos, por falta de humildade em reconhecer os próprios erros. E, com frequência, uma justificação desse género é uma tentativa de erigir em regra o seu modo de proceder, de o apresentar não só como normal, mas até mesmo como conveniente. Mas isto é possível – repito-o – porque não se considera a vida a partir da colheita, dos frutos, do resultado.
Tal como a criação, colhemos o valor e o sentido da nossa existência a partir da nossa vida escondida com Cristo em Deus, que começa com a nossa ressurreição baptismal, graças à qual vivemos como ressuscitados e nos dirigimos, como ressuscitados, para a nossa morte. Do mesmo modo, na santa Eucaristia não recordamos o passado de nosso Senhor senão enquanto a sua morte, a sua paixão e a sua ressurreição constituem a nossa redenção e a nossa passagem n’Ele para o Pai.
Gostaria de sublinhar que a arte de viver é uma arte que se elabora contemplando o fim. Tal como, para criar uma obra de arte, se procura plasmar a matéria de acordo com aquela visão que foi dada ao artista de poder contemplar, no horizonte último, com uma intuição extraordinária. Se te vires já participante da liturgia do Cordeiro na praça de ouro descrita no final do Apocalipse, em comunhão com todos, então viverás e farás as tuas escolhas em função desta visão real, a que nos abrem a liturgia e a comunidade na fé, que estas nos fazem partilhar e de que se nutrem».
Excerto retirado do livro de Marko I. Rupnik SJ, A Arte da Vida, Editorial AO 2015