É muito claro na Escritura, sobretudo em S. João, quer no Evangelho quer nas cartas, que a Luz veio às trevas e estas não a receberam. É também claro a luta das trevas contra a Luz. Esta incomoda, desinstala, põe a claro o mal, o ódio, o crime, o roubo, a fraude, a promiscuidade, o tráfico de pessoas, a venda criminosa de armas, a falta de liberdade, etc. O poder do mal e do maligno, chamem-lhe demónio ou satanás, príncipe das trevas, como lhe chamava Jesus, continua a lutar contra o bem, a verdade, a santidade, a vida das pessoas, a liberdade religiosa, e lança as trevas, qual nevoeiro que impede de ver o bem, a beleza, o amor, o valor da vida, da paz, e nos engana, seduz, arrasta para o abismo do mal, da falta de dignidade, de cobardia, de sedução e intimidação, que nos manobra como quer e deseja.
Damo-nos conta de tudo isto, desta luta que se arrasta há séculos e que continua hoje no mundo à nossa volta. Mata-se, rouba-se, faz-se explodir bombas, derrama-se sangue, vendem-se pessoas, exploram-se os pobres, esmagam-se liberdades, fomenta-se a exploração económica para que os pobres sejam mais pobres, semeia-se a violência doméstica. Manobras macabras, satânicas querem ofuscar a Luz que é Jesus, sua Palavra, que é a Verdade, a Justiça, a Vida humana com toda a sua riqueza. Vai-se semeando, como areia no ar que gera penumbra que impede ver o caminho do bem e da verdade e ficarmos insensíveis à calúnia, à mentira, à exploração de menores, à venda de raparigas para a prostituição, etc. Mesmo com muito otimismo e muita esperança de um Ano Novo repleto de graça e de dons de Deus, o mal continua a manobrar inteligências e corações, vidas inteiras. O panorama não é famoso, brilhante. As trevas continuam a lutar, a fazer seus estragos, desfazendo vidas, cidades, países. Sangue inocente continua a correr, milhões de pessoas sofrem a fome e morrem por causa dela, porque há muita ganância, muita exploração, muito crime contra a vida e o amor, contra a liberdade e a paz. Há desertos sem pão, sem amor, sem liberdade, sem fé, sem Deus. Há famílias sem unidade, sem amor, sem dignidade, muitas sem emprego, sem pão, sem carinho.
Mas Jesus é a Luz. Maria é a Mãe que nos deu a Luz. Neste Ano do Centenário das suas Aparições em Fátima, temos que ouvir muitas vezes estas suas palavras: O meu Imaculado Coração será o vosso refúgio e o caminho que conduz a Deus. E também outras que nos animam: Por fim o meu Coração Imaculado triunfará. Foi Nossa Senhora, a Mulher que calcou a cabeça da serpente, que venceu o dragão enganador, que nos pode ajudar na luta contra o poder do mal, do pecado, das trevas. Ela, Mãe e Rainha, quer ajudar-nos e pede a nossa conversão, a nossa oração, a nossa penitência. Mas continuamos surdos às suas palavras, aos seus pedidos, às suas promessas, aos seus apelos. Com Maria seremos vencedores e a vitória será nossa, porque é dEla, da Mãe de Coração Imaculado. Falta-nos fé, falta-nos oração, falta-nos silêncio para escutar Deus e a Mãe. Estamos adormecidos, tíbios, frouxos, mundanos. Precisamos de conversão sincera, autêntica, vital, para que a Luz brilhe e ofusque o poder do mal e do pecado, destrua a escuridão da noite tenebrosa do maligno. Precisamos de ser mais evangélicos e acreditar na Palavra de Jesus. Precisamos de deixar o pecado e os seus tentáculos de mal. Precisamos de agir com audácia, com muita fé e muita oração.
Jesus usou estas expressões: o príncipe das trevas, o homicida desde o começo, o príncipe deste mundo. Hoje não falamos delas ou por ignorância, ou por medo, ou por desejo de não parecermos retrógrados, ou porque o mal nos manobra a inteligência e a língua, e, sobretudo o coração. Mas o mal entra em nós, está em nós quando criticamos ou caluniamos, quando inventamos algo de falso de alguém, quando não somos atentos e delicados com os mais pobres, doentes ou abandonados, quando desprezamos alguém, quando tiramos a alegria do coração de uma pessoa, quando acumulamos o supérfluo que pertence aos pobres, quando nos deixamos levar pela vaidade e pelo egoísmo e não nos lançamos ao serviço humilde e ao amor sem reservas, quando acumulamos bens sem necessidade, quando o nosso eu é rebelde ao Evangelho e suas exigências, quando não temos sentido de unidade, de paz e comunhão na paróquia, na família, na diocese. Sempre que não temos coração pobre e humilde e não servimos com simplicidade a Igreja nossa Mãe, não trabalhamos em comunhão com o Papa, quando não somos instrumentos de apostolado ativo, convictos e convincentes, quando o mundano nos impede de rezar, de viver uma vida de sacramentos cuidada e amorosa, estamos a ser manobrados pelo mal. É a luta contínua das trevas e da Luz. Não nos deixemos enganar. Não tenhamos medo nem nos deixemos seduzir pelo maligno. Um filho de Deus luta para não pecar, não estar do lado das trevas, não se deixar enganar pela poeira que nos impede de ver e de ser ao jeito de Jesus.
Dário Pedroso, sj