“«Somos membros uns dos outros» (Efésios 4, 25): das comunidades de redes sociais à comunidade humana” é o tema da Mensagem do Papa para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, que, este ano, se celebra a 2 de junho. No texto, o Santo Padre convida a um reflexão sobre o fundamento e a importância do “nosso ser-em-relação” e, neste contexto, recorre à metáfora da “rede” e da “comunidade”.
“Se é verdade que a internet constitui uma possibilidade extraordinária de acesso ao saber, também é verdade que se revelou um dos locais mais expostos à desinformação e à distorção consciente e pilotada dos factos e relações interpessoais, a ponto de muitas vezes cair no descrédito”, refere o Papa.
Francisco reconhece que “as redes sociais servem para nos contactarmos melhor” mas, por outro lado, “prestam-se a um uso manipulador, procurando obter vantagens no plano político ou económico, sem o devido respeito pela pessoa e seus direitos”.
O Papa fala ainda da relação dos jovens com a rede e cita as estatísticas para evidenciar uma realidade preocupante: um em cada quatro adolescentes está envolvido em episódios de “cyberbullying”. Além disso, são os jovens que estão mais expostos ao fenómeno dos “eremitas sociais”, correndo o risco de se alhear totalmente da sociedade.
“Os adolescentes é que estão mais expostos à ilusão de que a social web possa satisfazê-los completamente a nível relacional, até se chegar ao perigoso fenómeno dos jovens «eremitas sociais», que correm o risco de se alhear totalmente da sociedade”, adverte o Santo Padre, acrescentando que esta “dinâmica dramática manifesta uma grave rutura no tecido relacional da sociedade”.
Francisco diz que “esta realidade multiforme e insidiosa coloca várias questões de caráter ético, social, jurídico, político, económico e interpela também a Igreja”. Por isso, cabe “aos governos procurar meios legais de regulamentação para salvar a visão originária de uma rede livre, aberta e segura” e “é responsabilidade ao alcance de todos nós promover um uso positivo da mesma”.
Comunhão e alteridade
E como reencontrar a verdadeira identidade comunitária na consciência da responsabilidade que temos uns para com os outros inclusive na rede online? A pergunta é do próprio Papa que encontra resposta na metáfora “do corpo e dos membros”, usada por São Paulo, e que “nos leva a refletir sobre a nossa identidade, que se funda sobre a comunhão e a alteridade”.
“Como cristãos, todos nos reconhecemos como membros do único corpo cuja cabeça é Cristo. Isto ajuda-nos a não ver as pessoas como potenciais concorrentes, considerando os próprios inimigos como pessoas. Já não tenho necessidade do adversário para me autodefinir, porque o olhar de inclusão, que aprendemos de Cristo, faz-nos descobrir a alteridade de modo novo, ou seja, como parte integrante e condição da relação e da proximidade”, lê-se na Mensagem.
Segundo Francisco, o panorama atual convida-nos “a investir nas relações, a afirmar – também na rede e através da rede – o caráter interpessoal da nossa humanidade”. Os cristãos, em particular, “são chamados a manifestar aquela comunhão que marca a nossa identidade de crentes”.
O Santo Padre conclui a Mensagem sustentando que “a rede só será uma oportunidade se soubermos vivenciar na prática as conexões feitas através da tecnologia e para isso é necessário passar do “like” ao “amém”.
“Esta é a rede que queremos: uma rede feita não para capturar, mas para libertar, para preservar uma comunhão de pessoas livres. A própria Igreja é uma rede tecida pela Comunhão Eucarística, onde a união não se baseia nos «likes», mas no «amém» com que cada um adere ao Corpo de Cristo, acolhendo os outros”, remata.