Leão XIV aponta caminhos para a paz desarmada e desarmante

“A paz esteja contigo”. É assim que o Papa Leão XIV começa a Mensagem para o Dia Mundial da Paz 2026, a mesma saudação que dirigiu ao povo de Deus na noite da sua eleição como Bispo de Roma.

O Santo Padre reitera agora o desejo de “uma paz desarmada e desarmante, humilde e perseverante”, que “provém de Deus, o Deus que nos ama a todos incondicionalmente”.

Leão XIV insiste que “a paz existe, deseja habitar-nos, tem o poder suave de iluminar e alargar a inteligência, resiste à violência e vence-a”.

O pontífice reconhece que “não são poucos aqueles que chamam de realistas as narrativas privadas de esperança, cegas à beleza dos outros e esquecidas da graça de Deus que sempre age nos corações humanos, por mais feridos que estejam pelo pecado”.

Perante isto, Leão XIV convida os cristãos a abrirem-se à paz, a acolhê-la e a reconhecê-la, “mesmo que seja contestada dentro e fora de nós, como uma pequena chama ameaçada pela tempestade”.

Uma paz desarmada

O Papa recorda que “a paz de Jesus ressuscitado é desarmada, porque desarmada foi a sua luta, dentro de precisas circunstâncias históricas, políticas e sociais”. Por isso, “os cristãos devem tornar-se, juntos, testemunhas proféticas desta novidade, conscientes das tragédias das quais muitas vezes foram cúmplices” e “ao fazê-lo, encontrarão ao seu lado irmãos e irmãs que, por caminhos diferentes, souberam ouvir a dor dos outros e se libertaram interiormente do engano da violência”.

Citando Santo Agostinho, Leão XIV realça que “não é difícil possuir a paz. É mais difícil, quando muito, louvá-la. Se quisermos louvá-la, precisamos de ter capacidades que talvez nos faltem; devemos procurar as ideias certas, ponderar as frases”.

Por outro lado, prossegue, “quando tratamos a paz como um ideal distante, acabamos por não considerar escandaloso que ela possa ser negada e que até mesmo se faça guerra para alcançá-la. Parecem faltar as ideias certas, as frases ponderadas, a capacidade de dizer que a paz está ao nosso alcance”.

Paz experimentada, guardada e cultivada

“Se a paz não for uma realidade experimentada, guardada e cultivada, a agressividade espalha-se, tanto na vida doméstica, quanto na vida pública”, alerta o Papa, na Mensagem para o Dia Mundial da Paz, que se celebra a 1 de janeiro.

Leão XIV lamenta que haja “um enorme esforço económico para o rearmamento” e um realinhamento das políticas educativas contraditórias à paz.

“Em vez de uma cultura da memória, que preserve a consciência adquirida no século XX e não esqueça os milhões de vítimas, promovem-se campanhas de comunicação e programas educativos em escolas e universidades, bem como nos meios de comunicação social, que difundem a percepção de que se vive continuamente sob ameaça e transmitem uma noção de defesa e segurança meramente armada”, nota.

O Bispo de Roma considera que “os recentes avanços tecnológicos e a aplicação das inteligências artificiais no âmbito militar radicalizaram a tragédia dos conflitos armados e que está a delinear-se até mesmo um processo de desresponsabilização dos líderes políticos e militares devido ao crescente ‘delegar’ às máquinas as decisões relativas à vida e à morte das pessoas. É uma espiral de destruição sem precedentes, que compromete o humanismo jurídico e filosófico do qual qualquer civilização depende e pelo qual é protegida”.

Na opinião do Papa, é preciso denunciar as enormes concentrações de interesses económicos e financeiros privados que estão a empurrar os Estados nessa direção” e, ao mesmo tempo, promover “o despertar das consciências e do pensamento crítico”.

Uma paz desarmante

Leão XIV observa que “faz parte do panorama contemporâneo, cada vez mais, arrastar as palavras da fé para o embate político, abençoar o nacionalismo e justificar religiosamente a violência e a luta armada” e acrescenta que “os fiéis devem refutar ativamente, antes de tudo com a sua vida, estas formas de blasfémia que obscurecem o Santo Nome de Deus”.

O Santo padre sustenta que, “juntamente com a ação, é mais do que nunca necessário cultivar a oração, a espiritualidade, o diálogo ecuménico e inter-religioso como caminhos de paz e linguagens de encontro entre tradições e culturas”.

Hoje, realça, “mais do que nunca, é preciso mostrar que a paz não é uma utopia, através de uma criatividade pastoral atenta e generativa”.

O Papa defende ainda que aqueles que são chamados a assumir responsabilidades públicas, nos mais altos e qualificados cargos, devem seguir “o caminho desarmante da diplomacia, da mediação e do direito internacional”.

“A justiça e a dignidade humana estão, mais do que nunca, expostas aos desequilíbrios de poder entre os mais fortes”, afirma, realçando que “é necessário motivar e apoiar todas as iniciativas espirituais, culturais e políticas que mantenham viva a esperança”.

 

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