Já era mãe de filhas universitárias quando tive o primeiro computador, pelo que passei quase quatro décadas a escrever tudo à mão. Confesso que gosto de pegar no papel e na caneta e escrever. Hoje, a maior parte do que escrevo já é no computador. Mas tenho cadernos onde anoto, ou o que me vai na alma, ou notas das aulas que frequento, ou apontamentos dos cursos que faço online… Num dos cadernos registo frases ou pequenos excertos que leio, ou ouço, e que me ficam a fazer “cócegas”.
Uma das frases desse caderno surgiu-me ao ler o livro de Ben Sira.
“Um amigo fiel é um abrigo seguro; quem o encontra, descobre um tesouro. Nada é mais precioso do que um amigo fiel e nada se iguala ao seu valor. Um amigo fiel é um bálsamo para a vida; os que temem o Senhor acharão tal amigo. O que teme o Senhor sabe escolher bons amigos; porque o seu amigo será semelhante a ele”.
Que bonita definição de amizade! A amizade é mesmo um tesouro, é uma dádiva.
A amizade é indispensável à existência humana. Ninguém deseja viver sem amigos mesmo dispondo de todos os outros bens, já dizia Aristóteles. E Platão definiu a amizade como a predisposição recíproca que torna dois seres igualmente ciosos da felicidade um do outro.
Amigo é o que está sempre lá para nós, presencialmente ou não, nos bons e nos maus momentos. Amigo é a pessoa a quem pedimos um conselho porque nele confiamos. Amigo é o que nos diz aquilo que pensa, mesmo que não seja o que nós queremos ouvir e fá-lo com delicadeza. Amigo é aquele com quem temos a capacidade de partilhar. Quando falta o chão, o Amigo está lá. Entre amigos há cumplicidade. Amigo é o que fica na nossa vida. Cabe a cada um de nós preparar a sua importância na vida do outro.
Amigo não precisa de ser idêntico a nós, não precisa de ter os mesmos gostos, não precisa de pensar como nós, mas é necessário que nos acrescente algo com aquilo que é e aquilo que viveu.
Hoje “amiga-se” e “desamiga-se” como quem veste ou tira o casaco consoante o tempo. O termo Amigo está a desvirtuar-se. Para muitos, a amizade foi desligada dos afetos.
Termino com um parágrafo que peço emprestado ao Cardeal José Tolentino de Mendonça. “Agradeço os amigos. Essas e esses que, onde quer que estejam, sentimos profundamente a nosso lado: confiantes, benévolos, exigentes, cúmplices de memórias e de projetos, partilhando connosco inquietudes, aflições, lutos e também confidências felizes, também esperanças, viagens no mundo e dentro de nós, futuros, sorrisos. Os amigos são aqueles junto de quem podemos ficar em silêncio e isso ser uma forma extraordinária de comunhão. Eles testemunham que a única coisa verdadeiramente essencial é ser”.
Graça Pimentel