Rezar com os campos a germinar

Somos do tempo da pressa. Somos do tempo de «não ter tempo» para nada, da produtividade medida em minutos ou segundos, do stress que rói por dentro e mata por fora. Somos do tempo de não ter tempo para Deus, que nos leva, muitas vezes, a não compreender os tempos de Deus.

Hoje convido-vos a ter tempo e a ir comigo até ao campo. É inverno, está frio e o terreno está nu, a esperança é pequena como a duração do dia e a escuridão parece que não acaba. Onde tudo é dúvida, tudo é estranho e o medo atinge-nos como vento frio que congela os pés.

Na agricultura também há fases de silêncio e dúvida, onde não vemos progressos, questionamos tudo e parece que nada avança. Há fases em que não podemos fazer nada e devemos apenas esperar que o nevoeiro passe. Nesta fase não devemos tomar nenhuma decisão precipitada, devemos perseverar na nossa oração e recordar colheitas anteriores e preparar para períodos de graça que sempre vêm, porque, por mais longo que seja, o inverno acaba sempre por passar!

Agora é março, os dias já são maiores, as temperaturas começam a aquecer e as andorinhas já andam de um lado para o outro. É altura das sementeiras! São períodos de incerteza, mas associados a uma grande confiança e otimismo. Pensamos sobre que sementes escolher e onde colocá-las e esperamos que todas nasçam, cresçam e gerem frutos abundantes.

Comparando com a nossa vida, podemos associar à fase das grandes decisões discernidas e desejadas. Uma fase de sonhos grandes que nos enchem de ânimo, mesmo não sabendo bem o que estamos a semear e o que queremos colher, mas na qual estamos dispostos a arriscar e a dedicar todo o nosso esforço, trabalho e energias, porque acreditamos que é o caminho que somos chamados a percorrer. É também uma fase delicada, onde o que é semeado é frágil e cresce lentamente. Se, por um lado, temos uma confiança que move montanhas e uma alegria desmedida, por outro, os crescimentos e sinais de confirmação das nossas escolhas são pequenos e discretos. Aqui, surgem também vários vendedores de adubos, prometendo muitos e melhores resultados. Cuidado! É preciso estar atento, os sentimentos que mais tarde surgem podem ser ocos e passageiros.

O nosso caminho vai avançando e chegámos ao verão! A fase que eu associo à rotina, rotina esta que, por ser a mais recorrente, considero a mais pertinente. A rotina com dias mais acelerados, de crescimento rápido, em que as plantas amadurecem e nos consolam porque sabemos que colocámos a semente certa no local certo. Mas também uma rotina com alguns dias de tempestades de verão, com grandes ventos e poeiras, que nos atrasam o crescimento e por vezes nos desviam do nosso caminho.

Por fim chegámos ao outono, o frio reaparece e os dias voltam a diminuir, mas quando menos esperamos chega a altura da colheita. São períodos pequenos, mas muito intensos, onde os frutos são sempre muito mais abundantes do que alguma vez sonhámos. Frutos estes que automaticamente chegam até aos outros, não pela nossa generosidade, mas pela quantidade e qualidade destes frutos. Estes momentos de grande graça são essenciais no nosso caminho de fé, porque confirmam todo o nosso esforço, dúvidas e inquietações e voltam a encher-nos de confiança para ultrapassarmos um novo inverno!

A agricultura, imagem tão bíblica pela simplicidade das suas imagens, assemelha-se muito à complexidade das nossas vidas, onde depositamos toda a nossa energia sem a certeza de como irá acabar. Enfrentamos contratempos imprevisíveis que não controlamos, mas na rotina e na nossa oração diária encontramos repouso ao ver o que semeámos a amadurecer. Vivemos uma alegria muito visível dos frutos do nosso trabalho, algo que não nos transforma só a nós, mas também as pessoas à nossa volta.

Quem compreendeu muito bem este ciclo foi Santo Isidro, padroeiro dos agricultores (por coincidência, foi canonizado no mesmo dia que Santo Inácio), que dizia: «Jesus cuida as feridas das minhas mãos, para que possa continuar a trabalhar, e que os frutos do meu trabalho continuem a ser sustento das pessoas à minha volta e assim te conheçam e amem!».

Que tenhamos coragem de continuar a semear sementes de Cristo!

Simão Coimbra

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