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A memória do coração

“Bendiz, ó minha alma, o Senhor, e não te esqueças dos seus benefícios.” (Sl 103, 2)

As pessoas têm diferentes tipos de memória. Uns falam de memória auditiva, porque identificam melhor o que ouvem do que o que veem; outros de memória visual, porque é através da visão que fixam os acontecimentos da sua vida; outros, afirmam ter boa memória, porque sabem recitar poesias ou cantar canções “de cor”.

Como é que fazemos uso da memória? Nos momentos difíceis, podemos muitas vezes recitar poesias, orações e canções. Ainda assim, parece que o desespero não nos abandona, que a dor vence a batalha e sentimo-nos sós.

A memória que nos serviria nestas circunstâncias é a do coração. A que retém as emoções despertadas por um amanhecer ensolarado depois de uma noite de tempestade; a que gerou o abraço terno de uma pessoa querida, depois de um tempo sem o ver; a que inspirou um olhar compassivo e clemente perante um erro ou uma ofensa da nossa parte; a que fixou um sorriso terno e caloroso de alguém que nos agradeceu a nossa presença.

Quando a tempestade aumenta, ou estamos em dificuldades, ou passamos por momentos de tristeza, tendemos a cair numa dupla tentação que nos fere e nos faz perder o entusiasmo. A primeira é “deixarmo-nos convencer de que esta é a nossa única realidade e que tudo é negativo e continuará a sê-lo”. A segunda é “perder a memória dos momentos de conforto e de alegria, dos bons encontros, das pessoas que nos trouxeram paz, de um trabalho bem feito”. Tudo está focado e centrado nas dificuldades que mancham tudo e ganham a nossa atenção.

Recordar é voltar a passar pelo coração. É reviver os acontecimentos, trazê-los de volta ao coração, revisitando as sensações, as emoções e os sentimentos que vivemos naqueles momentos de alegria e de paz. Ali estava o Senhor, abraçando-nos!

O inimigo da natureza humana, como Santo Inácio chamava ao mau espírito, procura escurecer o coração logo que nos deparamos com uma dificuldade na vida, para que ele não veja, não ouça, não sinta nada para além dos inconvenientes atuais. Ajudar-nos-á assumir o esforço de “recordar” os momentos de luz, de paz, de alegria, de esperança, os gestos de amor dados e recebidos, enfim, os momentos em que o Senhor nos abraçou e nos fez tanto bem.

Parar, colocar em perspetiva, voltar ao coração e reler, são ações que ajudam a colocar os acontecimentos no seu lugar, a medi-los na sua justa medida e a pesá-los no seu valor.

 Bettina Raed
(Coordenadora internacional de “O Caminho do Coração”)

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