A Ressurreição é a festa que fundamenta a nossa fé. É a festa da nossa libertação. E é preciso esforçar-se pela libertação! Mas agora gostaria de dizer algumas palavras acerca da pequenez da Ressurreição. É certo que se trata de um grande acontecimento. Admitamos que se Jesus tivesse aparecido por cima do Templo gritando «Eu venci», toda a gente teria acreditado na sua ação. Mas está aí o mistério. Em vez disso, o que fez Ele? Foi ter com uma mulher que estava só ou com algumas mulheres. E porquê? Eis a grande questão. Com efeito, se Ele tivesse aparecido de um modo mais «eficaz», teria humilhado aqueles que O tinham humilhado.
A Ressurreição faz-se acompanhar por uma espécie de discrição. Jesus encontra-Se com uma mulher e depois com onze homens – ou dez (quando Tomé não estava presente). A seguir, vai à Galileia encontrar-Se com outros. Encontra-Se ainda com dois homens que caminhavam para Emaús. É tudo. Esta maneira de proceder faz-nos pressentir algo de muito importante.
A Ressurreição manifesta-se unicamente por meio de encontros. Não é um acontecimento extraordinário nem um facto grandioso que deita toda a gente por terra. É, antes, um acontecimento humilde que se dá no interior de uma relação, para que as pessoas possam dizer: «Eu encontrei-O e Ele está vivo!». Dessa forma, estas pessoas poderão, por seu lado, ir ter com outras para lhes anunciar que, tendo-O encontrado, foram transformadas. Isto toca em algo de muito profundo quanto à transmissão da fé. Como é que ela se transmite, esta fé em Jesus?
Excerto retirado do livro de Jean Vanier, Jesus Vulnerável, Editorial AO 2017