O homem e a mulher criados por Deus e à sua imagem e semelhança têm uma dignidade, um dom de vida, que não pode nunca ser maltratada, sofrer homicídio, violência, injustiça, roubo, degradação, exploração criminosa, etc. O homem e a mulher, cuja vida desde a sua conceção no seio materno até a sua morte natural é um dom precioso do Criador e tem uma dignidade que não pode ser destruída ou arruinada, desprezada ou ofendida. A vida da pessoa humana é um tesouro que todos temos de defender ou respeitar, ajudar e fazer crescer.
Infelizmente, a perda do sentido ético e dos valores éticos que deviam nortear a inteligência, o coração, a vida e a ação de cada ser humano, está cada vez a ser mais intensa, quer nas pessoas, quer nas estruturas da sociedade, quer nos governos.
Notícias diárias nos canais da televisão, nas páginas dos jornais, nos noticiários da rádio, dão conhecimento de fraudes, roubos, julgamentos iníquos, homicídios qualificados, milhões de abortos, infração de leis que provocam morte, injustiça, desemprego, doenças, etc. Filho mata pais, mulher mata marido, namorado mata namorada. Mata-se para assaltar casas, roubar haveres. Matam-se pessoas por causa do ciúme, da droga, do álcool, da promiscuidade sexual, da paixão, enganadora. A vida humana não é amada, respeitada, protegida. A alma do mundo está doente, o coração do mundo, das famílias, das sociedades está doente.
E, se estendemos mais longe e mais largo o nosso olhar, o nosso conhecimento, a nossa capacidade de averiguação, encontramos milhões de pessoas que passam fome e morrem por causa dela, encontramos milhões de refugiados explorados e maltratados, encontramos milhões de drogados que se destroem enquanto outros enriquecem com a sua degradação e morte, encontramos crianças forçadas a trabalhos violentos ou exploradas sexualmente, sem amor das famílias, dos educadores, da sociedade. Encontramos milhões de pessoas sem casa, sem meios de cultura, sem cuidados adequados para a sua saúde, sem emprego, ou com ordenados e reformas indignas e injustas, continuando a viver uma existência mergulhados na miséria, na fome na degradação, na injustiça.
Parece também que a mentira assentou arraiais nos meios de comunicação, nas estruturas da sociedade, no modo de enganar, de governar, de explorar. Vive-se numa sociedade em que se mente, desde alguns governantes, alguns membros e oficiais de justiça, de forças armadas, de governadores e altos funcionários de bancos, de diretores de serviços públicos, etc. Mentira que gera mentira, engano, injustiça, falsidade, má comunicação, falta de verdade para com o povo.
Jesus afirmou que o demónio é o «pai da mentira», é mentiroso e enganador desde o começo. E continua a ser nas estruturas da vida e da sociedade, qual polvo que estende os seus tentáculos malévolos e criminosos.
Todos nos perguntamos que poderemos fazer para ajudar a curar a alma e o coração do mundo, para ajudar nossos irmãos e irmãs a viverem com mais dignidade, mais amor e mais respeito à sua vida e à vida dos outros. Todos desejamos um mundo melhor, mais justo, mais pacífico, mais digno. Temos de nos formar e educar para saber escolher governantes sérios, temos de ajudar com o nosso testemunho e a nossa vida, temos de lutar pelo valor precioso da vida humana, temos de rezar muito e entregar este mundo a Nossa Senhora e ao seu Coração Imaculado, a Cristo Rei do Universo, ao Pai providente e bom.
A oração intensa e fervorosa foi sempre meio eficaz de conseguir o bem, a justiça, a verdade, o fim de guerras e de explorações. Uma confiança ilimitada em Deus e no seu amor não é uma alienação, uma pieguice, uma fraqueza de gente «beata». Nasce do exemplo e ensinamento de Cristo, de Maria, sua Mãe e nossa Mãe, da Igreja.
Conscientes da dignidade da vida humana, inventaremos meios de ajudar a proteger, amparar, defender, amar essa vida.
Dário Pedroso, sj
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