Ter um bom tempo de férias é exigente. Ora, exigência em tempo de férias parece uma palavra fora do lugar, pois ao longo de todo o ano sentimos que as responsabilidades e tarefas nos “exigem” tempo, energia, uma força de vontade que se vai esgotando, pouco a pouco. Férias, como habitualmente as consideramos, são uma espécie de suspensão do esforço, de não querer nada para além de estar precisamente a fazer isto: nada. Ou fazer aquilo que realmente nos apetece fazer, sem horários e sem imposições. Não estou a dizer que estes momentos de “nada” ou “fazer o que apetece” não são necessários, o problema é quando identificamos, sem mais, o descanso com estas duas coisas.
Esta identificação tão comum não traduz o potencial de umas boas férias, e o modo melhor de o ver é pelos seus frutos. Depois de uns dias ou umas semanas de “nada”, mesmo que seja a viajar por todo o lado ou, até que enfim, nos programas prometidos à família e aos amigos, a ler um livro, a ir ao cinema, a ir a um festival, a fazer desporto, a ir à praia ou à montanha, etc… o que acontece? Terminam estes dias e chega a nostalgia – até tristeza se poderia chamar – de voltar ao trabalho. Conclusão: acabamos as férias certamente contentes e agradecidos com o que aconteceu, mas tristes com o que está a chegar. E a tristeza não é um bom fruto. Diferente seria se acabássemos as férias cheios de alegria por regressar ao “tempo comum” que, aliás, é aquilo que mais excelente temos, a nossa vida quotidiana.
A exigência de umas boas férias é aliar o tempo de descanso, com tudo o que de bom e apetecível implica, com uma arte, esta sim exigente. Procuremos fazer com que o tempo de férias seja algo como desenhar o quadro perfeito da nossa vida, no qual nos podemos rever continuamente. Um quadro pintado com os traços das nossas relações mais queridas e das atividades que engrandecem o coração e o olhar, e com as cores bem definidas de Deus, as quais tantas vezes, ao longo do ano, surgem em tons tão desmaiados. As férias dão-nos tempo de qualidade para as coisas mais importantes, são um espaço de lançamento para a vida real, não um intervalo que depois desaparece e nos faz encarar a vida com cara e coração fechados.
Agora, que é tão fácil fazer fotografias de todos os momentos, faço-lhe esta sugestão. No final das férias, vividas nesta arte, selecione algumas imagens deste tempo que retratem o melhor da sua vida: Deus, a família, o cultivo do espírito… e mantenha-as em lugar visível. Nos momentos de rotina e cansaço e desânimo, volte à contemplação destes espaços de vida, para neles encontrar o segredo da alegria das coisas simples e gratuitas, que se podem fazer todos os dias. Poderá ser surpreendido ao dar-se conta que, afinal, as férias podem durar todo o ano.
A equipa do Secretariado Nacional do Apostolado da Oração deseja, assim, a todos, um reconfortante tempo de férias, cheio desta arte de contemplar a vida, com os seus frutos de alegria para o início do novo ano de trabalho.
António Valério, sj