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Flores para os mortos

Confesso que estou a mudar de opinião e a aceitar com mais serenidade interior as flores para os mortos, quando sinto que as mesmas pessoas tratam bem dos vivos, dão de comer aos que têm fome, preocupam-se com quem não tem casa, luz, amor, etc. Parecia irritar-me nos gastos enormes em flores para os mortos, que não precisam nada delas; precisam sim de orações, de sufrágios, de celebrações de Missas. Mas, repito, confesso que estou a mudar de opinião.

Os dias 1 e 2 de novembro são verdadeiros reboliços, azáfama com a ida aos cemitérios. Mas, para além das flores, creio que há muita amizade, carinho, saudade pelos que já partiram deste mundo. Mesmo para os que não rezam muito, ou até não têm muita fé, só a ida ao cemitério e o lembrar os que partiram já é algo importante. Ato de recordação afetiva, de respeito pelo local, de comunhão com quem estão ligados por laços profundos de amor, de amizade, de vida. E hoje, no meio de tanta indiferença, de tanto desprezo, de tanta falta de comunhão familiar, de amizade séria e profunda na sociedade em que vivemos, ainda resta algo de muito positivo na visita aos cemitérios. Mas… continuo a pensar que se gasta muito dinheiro em flores, e o pior parece ser que é mais para dar nas vistas, ou seja, numa atitude de vaidade dos vivos, que uma homenagem aos defuntos.

O mês de novembro é, na tradição da Igreja, o mês dedicado aos defuntos, aos nossos “irmãos, os fiéis defuntos”. Daí as expressões “mês das almas”, “mês dos fiéis”. Com uma catequese bem dada, poderíamos ter aqui um trunfo apostólico para um crescimento na fé, na vida para além da morte, nas realidades do Céu, do purgatório e do inferno. Uma catequese sobre a eternidade, sobre a certeza que a pessoa não morre, apesar da morte do corpo, da certeza que nascemos para a eternidade. Certeza do amor do Pai que nos criou à sua imagem e semelhança e que é o Deus dos vivos. Certeza que Jesus, vencedor da morte e do pecado, é Rei glorioso, vive para sempre e foi à nossa frente preparar-nos um lugar na Casa do Pai. Certeza de que com a morte a vida não acaba, apenas se transforma. Todos vivemos para sempre. Daqui a semente de esperança e de alegria.

Além da lei canónica sobre a cremação, aparece agora (só agora?) uma instrução mais clara acerca da cremação e do convite da Igreja, para que a cremação não seja feita, e, se for, que é necessário guardar as cinzas num lugar “sagrado”, que as gerações vindouras esquecerão seus antepassados com as cinzas lançadas ao rio, etc. etc. Estas medidas ajudarão a pensar no valor do corpo unido à alma, que teve atos sagrados, como os sacramentos, que viveu como parte integrante da pessoa humana. As cinzas depois da cremação, deitadas ao mar ou ao rio numa procissão de barco, não ajudarão a recordar os entes queridos, não são testemunho das pessoas que amámos. E há indícios de que com as cinzas, sobretudo se ficam em casa, tem havido atitudes pouco sérias e dignas, usando-as para certos cultos satânicos, certas atitudes de falta de respeito pela pessoa querida que partiu para a eternidade.

Eu prefiro que meus pais estejam sepultados no cemitério do que ter as cinzas guardadas em casa ou deitadas ao mar, ou a ornamentar um quadro, uma joia, etc. Aquelas ossadas que lembram a profecia de Ezequiel, trazem-me sempre ao pensamentos os pais que amei e que me deram a vida, que sepultei com amor e devoção, a cujas missas de exéquias presidi e me deram tanta consolação. Aqueles pais que acredito que estão vivos em Deus. Não me canso de dar glória a Deus pelos pais que tive e acredito que junto de Deus velam por mim. Estamos juntos no amor de Jesus e sempre em festa.

 

Dário Pedroso, sj

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