Tento resistir à tentação de falar a quente dos temas, pois uma boa discussão deve ser caracterizada por um saudável distanciamento das coisas, para poder reflectir e perceber o quadro geral das questões sem cair em argumentos construídos na base da emoção do momento.
E mais do que a emoção do momento, surpreendem-me os discursos da moda, no espaço público, quando as coisas de que se fala deviam ajudar a pensar e a rever atitudes da vida e não servir para atirar palavras ao ar, extremando posições sem grande fundamento.
Refiro-me, de modo particular, a três pronunciamentos do Papa Francisco que levantaram algum debate ultimamente. O primeiro, a propósito da liberdade de expressão, quando afirmou que, se alguém insulta a mãe de outra pessoa, arrisca-se a levar um murro; poucos dias depois, a questão do procriar como coelhos, referindo-se à paternidade responsável nas situações em que se deve estar a atento à saúde da mãe ou às condições da família, afirmando que há critérios que orientam o desejo de acolher os filhos que o Senhor quiser dar ao casal: e, agora, a questão do bom pai que corrige com firmeza os filhos, dentro da caridade.
O Papa Francisco é, absolutamente, um tópico essencial nas notícias, ele é sempre notícia e habitualmente uma óptima notícia. Não falta, por isso, quem queira usar o mínimo deslize (que não o é, nestes casos), para criar polémica. Tirando frases do seu contexto, exagerando a perspectiva, motivando a crítica.
O Jornalismo tem uma digníssima função que é informar e fazer reflectir acerca dos acontecimentos da actualidade. E ao mesmo nível da dignidade desta função deve estar a responsabilidade. Informar bem, apresentar as coisas de modo imparcial, para que quem lê as notícias tenha todos os dados para fazer a sua própria avaliação.
Por isso, senhores Jornalistas, não cedam à tentação de vender frases sonantes, apresentem o contexto, remetam para os vídeos e textos originais onde estão inseridas estas declarações, sirvam o bem comum com informação bem fundamentada e não cedam, por favor, à moda de criticar por criticar. Só porque vende. Nenhum dinheiro compra a responsabilidade de bem informar!
Porque estas três questões são muito delicadas: liberdade de expressão; paternidade responsável; educação dos filhos. O Papa não faz mais do que apelar ao senso comum e à responsabilidade perante tudo isto. Concordemos ou não com o modo como são ditas, é a sua forma simples de falar, que a todos toca.
Ao criticar as palavras do Papa sem mais, e sem contexto, porque são palavras que incomodam os discursos da moda, não se está a dar oportunidade às pessoas de avaliarem duas perspectivas e ver qual fará mais sentido. E a perspectiva do Papa Francisco faz todo o sentido. Pensemos bem nisso.
António Valério, sj