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Uma Europa cansada

A Viagem do Papa Francisco a Estrasburgo parece ter agradado aos eurodeputados e ao Conselho Europeu, ao ponto de ser aplaudido de pé durante alguns minutos. Por esta ou por aquela razão, todos gostaram: uns, certamente, porque falou da “maldita” economia, outros porque mencionou os trabalhadores “explorados” por capitalistas sem escrúpulos e cheios de ganância, outros, desconfio, porque falou dos pobres numa Europa neoliberal (como costuma dizer-se) e outros, finalmente, porque queriam ficar bem na fotografia e tinham de dizer alguma coisa. Afinal, coisas da política a que já estamos habituados!

Só temo que a denúncia feita pelo Papa sobre a economia selvagem que destrói a dignidade da pessoa humana, assim como o que disse sobre a situação dos “elos mais fracos” da nossa sociedade ocidental (os idosos, os imigrantes, os trabalhadores, os pobres e as minorias tantas vezes ostracizadas), acabe por não ter efeitos práticos. E temo ainda mais que a sua visão sobre esta Europa cansada, envelhecida e curvada sobre si própria (Fernando Pessoa diria uma Europa que “jaz, posta nos cotovelos” e que eu acrescentaria a olhar para um futuro vazio), com uma juventude desiludida, termine no esquecimento, quando bem merecia uma reflexão séria da parte dos seus altos representantes. Porque uma Europa assim só pode ser um corpo em decomposição e sem futuro, se não se lhe puser cobro.

Impressionou-me a expressão “Europa avó”, por ser dita, em jeito de síntese desta visão, por alguém que vem da América Latina, para quem esta mesma Europa foi a “mãe” da sua cultura, da sua civilização e da sua fé e que hoje pouco ou nada tem para oferecer. Feita “avó”, sem filhos nem netos (declínio demográfico), mais se assemelha a uma casa arruinada que teima viver em opulência de fachada, própria de uma nobreza decadente.

Algo parece estar a desmoronar-se. Sonhou um paraíso na terra e deu no que deu. E não foi por acaso. Por trás está uma história e um percurso de pelo menos três séculos. Inebriada pela Razão, foi matando a Fé (Racionalismo/Iluminismo) ao mesmo tempo que ia profetizando e concretizando a “morte de Deus” (Ateísmo) para entronizar o Homem (Super-Homem) em seu lugar, fazendo-o senhor do mundo e da história. Deus foi ficando sem lugar e a mais na construção da sociedade, enquanto os valores cristãos e universais, tidos como arcaicos, iam sendo substituídos pelos valores da laicidade a que chamam pomposamente liberdade, igualdade e fraternidade (Basta lembrar, como exemplo, a problemática levantada sobre a não referência à herança judaico-cristã aquando do Tratado Constitucional Europeu).

Eis o homem livre, “salvo” do obscurantismo da fé; eis o homem livre que, atingindo a idade adulta, pode agarrar as rédeas do seu destino, criar-se, recriar-se e ser senhor de si. Deus para quê? A Ciência e a Técnica deram-lhe o Progresso e este, por sua vez, deu-lhe o poder sobre o vasto espaço aberto pelos Descobrimento onde começou a exercer esse mesmo poder. Enriqueceu à custa do terceiro mundo apropriando-se das suas matérias primas, matérias que depois lhe vendia transformadas e com valor acrescentado.

E rica, julgou-se todo-poderosa, sem “travões” morais, conduzindo o carro da história pela ética do relativismo, do individualismo, do lucro, da ganância e dos interesses dos mais fortes. Hoje, olha-se ao espelho e vê-se ainda rica “por fora” (até quando?), mas “por dentro” está vazia e sem rumo, velha e cansada, sem valores a que possa agarrar-se, e à espera que um salvador qualquer a venha salvar do naufrágio.

Mas haja esperança porque os ecos de “Aquele que vem salvar” se aproximam rapidamente, trazendo uma nova oportunidade para os “homens de boa vontade” e com um mínimo de juízo e realismo. Que o Senhor a venha e nos venha salvar! Santo Natal!

 

A. da Costa Silva, sj

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